Artigos › 22/08/2022

O dogma da Assunção de Nossa Senhora

O dogma da Assunção de Nossa Senhora

 

 

 

O último passo na progressiva compreensão teológica-dogmática ao longo da história da figura de Maria aconteceu em 1950 quando Pio XII, na Constituição Apostólica Munificentissimus Deus, solenemente definiu o dogma da Assunção de Nossa Senhora; o Papa, junto com a proclamação do dogma, apresentou também o seu significado teológico e vital do mesmo.

 

Antes de continuarmos com a apresentação do significado teológico do dogma da Assunção, temos, todavia, que ter presente o que seja um dogma na Igreja. Um dogma é, fundamentalmente, uma declaração pública da Igreja, através do seu Magistério, expressando uma parte do conteúdo da revelação divina e que vincula todos os cristãos a crerem no que é proposto. Podemos então comparar o dogma como os sinais de trânsito: indicam o que se deve obedecer para não se incorrer em ilícitos ou sair fora da estrada.

Assim, a declaração pública de um dogma não é um ato eclesial improvisado, mas precedido por longos e sérios estudos, sustentado pela tradição e expresso na piedade dos fiéis em geral. No que se refere à Assunção, nas décadas anteriores à manifestação de Pio XII, viram florescer um grande número de estudos sobre Nossa Senhora, mas não só: estes estudos – aliados com a ampla crença do povo de Deus – estava alicerçada naquilo que desde a antiguidade os teólogos dos primeiros séculos do cristianismo já tinham acreditado e ensinado sobre o final da vida de Nossa Senhora.

 

Assunção na Bíblia?

Olhando para a Bíblia não encontramos um testemunho explícito sobre a assunção de Maria ao céu e, da mesma forma, não existe nem mesmo esta afirmação nos teólogos dos primeiros três séculos da história do cristianismo; em ambos os lugares não encontramos qualquer referência ao destino final de Nossa Senhora. Entretanto, a partir do final do século IV e, sobretudo, em torno do Concílio de Éfeso, celebrado em 431 – que definiu Maria, como Mãe de Deus –, começamos a encontrar de maneira sempre mais frequente, afirmações em relação a isso nos Santos Padres, na piedade popular e na liturgia; as manifestações no período iam no sentido de afirmar que o corpo de Maria não teria sofrido a corrupção da carne. Fundamental nesse processo foi a crença que se desenvolveu, principalmente no Oriente no século VI, no trânsito ou dormição de Maria; esta festa litúrgica foi fixada no dia 15 de agosto por decreto imperial.

A compreensão oriental a este respeito (e que explica o nome da celebração) é de que Maria teria adormecido na terra e despertado na eternidade, em Deus.

O documento papal de Pio XII do século XX, da sua parte, – recolhendo o anseio do povo de Deus que apontava para um consenso “moralmente unânime” – declarou então que a Virgem Maria, depois de encerrar a sua vida terrena, foi elevada em corpo e alma à glória celeste. Entretanto, mais que o corpo e alma, o texto reforça que é a pessoa de Maria em toda a sua integridade e entendida como Mãe de Deus, imaculada e sempre virgem – verdades estas que já faziam parte do patrimônio de fé de toda a Igreja – que foi assunta (elevada) ao céu. E vale destacar, por fim, que o documento de Pio XII se limita apenas a afirmar o fato da assunção sem indicar o modo e o como Maria concluiu a sua vida terrena: esta é uma questão teológica que ficou aberta.

 

Testemunhas seculares

Assim, a Assunção de Maria se nos apresenta como um dogma de fé divinamente revelado ao longo da história do povo de Deus. Os testemunhos seculares da tradição dos Santos Padres, da liturgia, da teologia, da iconografia etc. levaram a esta declaração de fé; todos estes elementos manifestam a fé comum e universal dos fiéis e são prova, portanto, da revelação divina manifestada no povo de Deus, guiado pelo Espírito Santo.

Vale destacar, por fim, que a celebração da Assunção de Nossa Senhora, compreendida juntamente com o mistério redentor de Cristo, aponta também fundamentalmente para o nosso destino, ou seja, o destino de todo ser humano: Deus. Como diz Paulo aos Filipenses: somos cidadãos do céu (3, 20-21); busquemos, portanto, as coisas do “alto” (Col 3,1-3), assim como Maria o fez e de onde ela olha e intercede por nós, peregrinos neste mundo.

 

 

O autor, Padre Juliano Dutra, é colaborador desta revista, padre Palotino e professor de História da Igreja na Faculdade Palotina – Fapas, em Santa Maria (RS)

Texto publicado na edição de agosto de 2022

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