Notícias › 18/01/2019

O que estamos fazendo de nosso tempo e de nossa história?

Por Ir. Leandro Carlos Benetti

Tempo atrás ouvi uma definição muito interessante acerca da diferença entre preguiça e cansaço. “Preguiça acontece antes de trabalhar; cansaço, depois do trabalho”. Achei uma resposta engraçada e genérica, mas se formos pensar bem, não deixa de ter suas razões e acertos. Porém, se seguirmos mais adiante, encontraremos outro conceito que surge nos tempos atuais, a saber, o ócio. Tirando estas duas sensações (preguiça e cansaço) e se nos detivermos a nos perguntar o que fizemos com o nosso tempo livre, certamente teremos diversas respostas. Cada um sabe o tempo que tem, mas sabemos o que de fato fizemos com o mesmo? Que possamos refletir um pouco sobre este tempo ocioso que temos, este tempo que ninguém, ou nenhuma situação externa, nos exige fazermos algo.

No final dos anos 90, o sociólogo italiano Domenico de Masi, observando o trabalho na sociedade pós-industrial, desenvolveu a ideia de que a humanidade teria a necessidade de responder a si mesma o que fazer com seu tempo livre. Escreve o livro O Ócio Criativo, onde demonstra que a criatividade aumenta o potencial imaginário e faz crescer a satisfação pessoal. Em dado momento, em seu livro, afirma que “existe um ócio alienante, que nos faz sentir vazios e inúteis. Mas existe também um outro ócio, que nos faz sentir livres e que é necessário à produção de ideias, assim como as ideias são necessárias ao desenvolvimento da sociedade”.

Ao contrário do que poderíamos achar em afirmar que o ócio seria uma espécie de preguiça, ele se distancia pelo fato de que o ócio exige criatividade e gera produtividade e significado no tempo, bem diferente dela, que é insignificante por si só. Por isso, o ócio criativo é a capacidade do ser humano de viver a integralidade da vida e do tempo. Fazer de seu trabalho, estudo e diversão a construção de sua identidade, de assumir o papel de protagonista de sua história.

O conceito de ócio criativo é uma resposta que alarga e faz contraponto ao modelo que idolatra o trabalho como competitividade e geração de poder, propriedade e dinheiro. Domenico escreve com ironia e sarcasmo, questionando esta forma de agir, afirmando que “aquele que é mestre na arte de viver faz pouca distinção entre seu trabalho e o tempo livre, e distingue uma coisa da outra com dificuldade. Almeja, simplesmente, a excelência em qualquer coisa que faça, deixando aos demais a tarefa de decidir se está trabalhando ou se divertindo”.

Desta forma, podemos compreender que o ócio criativo vai além da compreensão de “usar bem o tempo livre”. É uma resposta à própria forma de viver. Conseguir fazer o equilíbrio das diversas facetas existentes em nosso dia a dia, eis o desafio que nos é apresentado. Desta forma, o ócio criativo não é usar o tempo conforme achamos conveniente, podendo nos levar a hábitos nocivos. É investir o tempo em atividades (até mesmo o descanso pensado como atividade) que edificam o corpo e a mente, não em frivolidades. Será para cada um de nós um desafio, neste ano que se inicia, experimentar o ócio criativo como modelo para equalizar o tempo e a forma de viver. É a capacidade sempre nova de se reinventar.

 

 

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