Vencendo o desânimo e a depressão – a busca de Deus
A sensação de inutilidade. A pessoa depressiva e desanimada, em geral, torna-se muito vulnerável. Viver pode se tornar um peso. Não consegue ver os sofrimentos do mundo sem se abalar. Mesmo tendo sido bem-sucedida na vida, tal pessoa pode se tornar depressiva. Quando chega o momento da aposentadoria e do descanso, em vez de ficar feliz por ter atingido o objetivo esperado, pode cair no vazio e na sensação de inutilidade. Até então, o esforço do trabalho lhe dava um sentido de vida, agora já não tem mais motivo para lutar. Os pensamentos da pessoa depressiva, normalmente, giram em torno do pessimismo. Também pode haver o medo do futuro que se apresenta cheio de ameaças. E quando tal pessoa define sua vida a partir do sucesso e da aprovação de todos, a sua doença tende a piorar.
A crítica contrária. Conhecemos pessoas que venceram situações difíceis com muito mérito e foram aplaudidas e admiradas pelo seu sucesso. Mas, então, eis que de algum lugar surge uma crítica contrária, o que já é suficiente para cair tudo por terra. De um momento para outro, suas forças se esgotam. Os seus pensamentos se voltam para o que é negativo, vão se deixando levar pelo desânimo. Outra causa da depressão pós-sucesso é a falta de sentido para a vida. Até então, tal pessoa lutou sempre, com todas as forças, por um objetivo. Agora, porém, que a meta foi alcançada, e que, de certa forma, chegou ao pico da montanha, parece que a planície não é tão bela quanto se imaginava. Eis a decepção e a frustração.
A carga negativa. Quando a pessoa estabelece um diálogo interno negativo, está reforçando uma tendência para a depressão. Uma pessoa amargurada e triste tem constantemente pensamentos ruins. Não vê mais a luz da esperança no final do túnel. A cada diálogo negativo que vai estabelecendo com seu próprio íntimo, os sentimentos de desânimo são reforçados, aumentando, assim, o peso da vida. Tais pensamentos podem levar até a consequências maiores. Por isso, é de fundamental importância dar atenção ao que pensamos. Não se trata simplesmente de substituir os pensamentos negativos pelos positivos. Trata-se, muito mais, de entrar em diálogo com todos estes emaranhados, percebendo o que eles querem questionar para o momento atual.
A superação dos velhos padrões. A medida que os anos passam, é preciso se dar conta de que já não é mais possível continuar vivendo certos padrões anteriores. Não podemos continuar no mesmo caminho ou fazer sempre as mesmas coisas. Muitas pessoas entram em depressão por não estarem dispostas a abandonar os vícios e as manias do passado e do mundo. Não caminham para uma nova possibilidade de vida. A depressão chama atenção para antigos padrões de vida autodestrutivos que agora precisam de mudanças urgentes. O desânimo que nos surpreende nos convida a superar a vida agitada, a fim de encontrar a nossa essência interior.
A instabilidade. A falta de raízes familiares a afetivas também torna as pessoas depressivas. A mobilidade cada vez maior faz com que se sintam sem chão. Elas não conseguem sentir-se em casa, em lugar nenhum. Não conseguem criar raízes por temerem que a “árvore plantada” seja em breve arrancada e transportada para um ambiente desconhecido. Tais pessoas perdem o “seu lar” interno, mas também o externo. A depressão pode ser um grito de socorro por estabilidade, firmeza e segurança. As constantes mudanças impedem amizades duradoras e são marcadas pelas perdas. É preciso recomeçar tudo de novo. Nem sempre a pessoa está pronta para enfrentar a nova realidade. Com isso tudo, vem a desmotivação, a instabilidade, o desânimo e, então, a depressão.
A superficialidade da fé. Muitas pessoas procuram, nos lugares distantes, aquilo que perderam lá onde está seu lar e seu aconchego. Esta instabilidade emocional é a base para o desenvolvimento da depressão. O futuro requer segurança. Quem perdeu um pedaço de sua identidade sente dificuldade com a constante troca de moradia. A insegurança habitacional também gera depressão. A Sagrada Escritura apresenta pessoas que não têm mais raízes. Um povo inteiro ficou sem raízes por ter voltado as costas para Deus. No mundo atual, o número de pessoas depressivas aumenta também devido à falta de uma base religiosa, ética e familiar. É preciso recuperar o sentido de uma vivência comunitária.
A superficialidade da fé deixa a pessoa fragilizada e mais exposta aos sintomas da depressão.
Os sonhos não realizados. A depressão não se apresenta apenas após perdas. Ela se expressa também por sonhos não realizados. É a chamada frustração da vida e dos projetos. Pode vir acompanhada de uma profunda mágoa ou de uma grande raiva de tudo e de todos. É o momento da revolta e da rebeldia, até mesmo contra Deus. Junto a isso, vem também a agressividade e a tristeza. A convivência com tais pessoas se torna insuportável. Já não há diálogo e nem entendimento.
A pessoa depressiva acredita que todos estão contra ela. Ninguém a compreende. Vive, assim, a solidão e o abandono, sempre insatisfeita.
A alegria do coração é roubada. O doente depressivo não se alegra com nada. Tudo o deixa raivoso e triste. Nenhuma boa palavra, nenhum elogio, nenhuma atenção amorosa alcança o seu coração sombrio e melancólico.
O depressivo não está em condição de aceitar a realidade da situação atual. O passado lhe parece melhor, pois toda a infelicidade do mundo está presente neste momento da sua história. E o pior de tudo é que a fuga para o passado deixa o depressivo ainda mais infeliz, já que ele não pode mais ser vivenciado. A depressão enfraquece o senso de concentração e de observação. A pessoa não consegue fazer grande esforço mental. Até mesmo o desejo de união com Deus parece ter desaparecido. A própria oração passa a ser um grande peso para se carregar, e não se reza mais.
As lágrimas reprimidas. A depressão pode ser proveniente também da morte de alguém. Quando a perda sofrida foi grande demais, a pessoa não consegue enfrentar o luto, embora que luto e depressão sejam coisas totalmente diferentes. Mas a reação tardia do luto por uma perda pode, sim, transformar-se em depressão. No momento do velório do ente querido, a pessoa esteve “forte”, demonstrando ter um coração duro, não derramando nenhuma lágrima. Foi um choro reprimido. Algum tempo depois, tal situação vem à tona. É como uma represa de água que arrebenta. Então a pessoa cai em si e pode entrar numa grande tristeza, e até na depressão. Tudo o que foi reprimido aparece mais tarde, com mais força.
O caminho para Deus. A pessoa triste normalmente se torna fechada. Há um fechamento para Deus. É preciso um ambiente seguro e saudável para dissolver o bloqueio. À medida que a pessoa depressiva consegue resgatar a vida de oração, ela vai se libertando de suas amarras. Diante de Deus, ela se coloca do jeito que é. A sua miséria pode se transformar em misericórdia, e a sua espiritualidade em caminho de esperança. Um sintoma da depressão é sempre a inquietude interna e externa. Com frequência, a atividade exagerada visa encobrir a depressão que se esconde por trás do ativismo. O desejo da pessoa é se livrar da depressão, o mais depressa possível. Mas, talvez, a vontade de Deus seja que ela aceite a sua doença com toda a humildade e que, através da depressão, encontre o seu caminho para Deus. Somente na cruz de Jesus encontramos respostas para o desânimo e outros sintomas que a vida apresenta.