Artigos › 23/05/2022

A ternura de Deus

A ternura de Deus

 

Na Igreja lidamos com pessoas o tempo todo. Aliás, ela existe por causa das pessoas. A missão evangelizadora é marcada pela promoção do encontro das pessoas com o acontecimento de Jesus de Nazaré.

 

 

Não importa a atividade na qual participa na comunidade: se varrer ou pregar, se visitar um enfermo ou participar de um encontro de casais, é preciso que em tudo haja uma boa dose de ternura. Como é triste ver pessoas desenvolvendo atividades da Igreja de cara feia e resmungando o tempo todo. Por isso, as atividades na Igreja não devem ser encaradas como obrigação, castigo ou sacrifício. Pelo contrário, a disponibilidade terna traz leveza, amizade e desperta a solidariedade fraterna.

Nem sempre temos clareza do que seja a ternura, mas todos sentimos necessidade. Ternura revela um coração educado e sensível para quem a comunica e para quem a recebe, confirma uma necessidade humana favorável. Há quem diga: “Ternura não é tudo, ternura não dá lucro”! A rigidez das leis, o individualismo egoísta e o grande senso de desumanidade que imperam hoje podem produzir tais convicções.

Porém, sem ternura a convivência humana torna-se um cenário desagradável de frieza, como um jardim sem flores. Exatamente quando as pessoas experimentam a desconfiança, o desânimo e a depressão, faz-se ainda mais necessária a ternura como recurso de esperança, humanização e transformação. As crianças de nosso tempo, muito mais do que de objetos de distração, necessitam contar com a terna atenção de um pai e de uma mãe que os ajudem a educar o coração. Os jovens, aparentemente frios e autossuficientes, tantas vezes se rebelam através de suas formas de linguagem, como revolta por lhes faltar a compreensão, a ternura e o carinho dos adultos.

Os homens e as mulheres de nosso tempo esperam que alguém os escute, lhes dê atenção. Todos sentem necessidade de palavras de ânimo e consolo, gestos de apoio e de bondade, proximidade de perdão e de alegria verdadeira. Somos chamados a levar a todos o abraço de Deus, que se inclina com ternura de mãe sobre nós.  A ternura de Deus é a expressão de sua misericórdia. Ele nunca chega para condenar, mas para salvar. Se necessitamos de vigor para não sermos como caniços agitados pelo vento, também necessitamos da ternura para não sermos como a terra árida do sertão. A relação terna entre os cristãos, a sensibilidade para com as fragilidades que a todos podem atingir e a verdadeira fraternidade do “vede como eles se amam” é o primeiro e o mais acreditado evangelho que devemos viver e comunicar aos outros.

Como Deus se manifesta “na brisa suave” e não no trovão, assim o testemunhamos entre os humanos, quando o revelamos na ternura. Problemas existem e sempre existirão para todos, mas a forma terna de caridade com que os procuramos contornar, poderá ser o remédio mais eficaz para as feridas que nos machucam.

 

O autor, Padre Lino Baggio, é colaborador desta revista e padre palotino em Coronel Vivida (PR)

Texto publicado na edição de maio de 2022

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