TDAH – UM OLHAR PSICOLÓGICO
Quando algo intriga, geralmente procuro me informar mais sobre o que está acontecendo. Nos últimos tempos o que tem me intrigado é o fato da crescente quantidade de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
Nas escolas, por exemplo, percebem-se crianças muito agitadas, com problemas de aprendizagem. E me pergunto há muito tempo: todas têm TDAH?
Não se trata de negar o problema, mas entender o que poderá estar acontecendo para compreender o transtorno e poder dar encaminhamentos adequados. Portanto, não tratarei sob a ótica médica, mas psicológica. Ou seja, o que a psicologia e a psicanálise têm a dizer sobre o tema. Será mais uma visão psicanalítica. O certo é que não se encontra uma definição em que consiste, nem onde se existe alguma lesão ou alteração cerebral. Para a psicanálise seria um sintoma psíquico com repercussões no comportamento, principalmente das crianças.
Para a psicanálise a atenção não está dada, mas é algo que se constitui com o tempo. Nem é dada para sempre, mas vai se estabelecendo como uma constituição psíquica. Com a atenção as pessoas fazem relações entre as coisas e satisfazem alguma vontade. Portanto, estamos sempre buscando algo no mundo externo que nos satisfaça, pois damos atenção somente aquilo que nos interessa. Entende-se assim que a atenção não é autônoma, mas articulada com o desejo. Isso não se pode perder de vista no caso do TDAH. A criança está sempre buscando algo que lhe satisfaça, voltando sua atenção para aquilo que lhe satisfaz e tem dificuldade para se concentrar naquilo que não traz satisfação. Ou seja, está sempre procurando fazer o que lhe dá prazer.
Relação entre a mãe e bebê
Essas ideias levam a pensar muito na relação da criança quando ainda era bebê e sua mãe. Poderá haver um déficit de vínculos materno-infantil nas fases muito iniciais e dessa forma não criar elos satisfatórios. Por isso, entende-se, que o TDAH é uma procura frenética para estabelecer algum vínculo com algo, mas é impossível porque escapa e não encontra satisfação. Por isso que o transtorno também se constitui como um processo psíquico. Há uma deficiência nos vínculos que facilmente se rompem. A partir disso se entende também a constituição psíquica do TDAH.
É preciso levar em conta os fatos psíquicos e sociais do transtorno, ter em conta os fatos subjetivos e que não se tratam exclusivamente de um distúrbio orgânico. Por isso que, para a psicanálise, o TDAH é um sintoma e não uma doença. Revela uma forma de estar no mundo e revela elementos importantes do psiquismo de quem é portador. Não se descarta o tratamento médico, mas não se trata exclusivamente de uma patologia orgânica.
A criança não pode ser abordada de forma isolada, mas como alguém que tem subjetividade e seu modo de estar no mundo revela vínculos instáveis com pessoas e o mundo à sua volta. Por isso, o tratamento deverá ir além do medicamentoso. A abordagem com crianças e adolescentes com TDAH leva em conta suas fases iniciais, relações com os pais principalmente. Ainda mais hoje em dia que vemos pais que ao invés de dar atenção aos filhos ainda pequenos, dão-lhes os “cuidados” de um smartphone. A criança, ainda muito pequena, tenta criar vínculos com o aparelho, mas tudo foge rapidamente. Os pequenos têm, assim, dificuldade para, aos poucos, controlarem seus impulsos.
Falta de vínculos
As crianças que não conseguem bons vínculos estão sempre em busca de alguém. Alguém que a olhe constantemente, que a cuide e que controle suas ações. Quando falta esse alguém, a criança fica ansiosa demais com a sensação de que algo muito ruim poderá lhe acontecer e perde o controle de seus impulsos. A hiperatividade da criança revela sua revolta de que precisa ser olhada. – O TDAH significa que a criança não sabe para onde dirigir seu olhar. Mesmo quando olha, não encontra algo que lhe satisfaça. Ou seja, a criança hiperativa está sempre em busca de algo para lhe satisfazer.
Concluindo: o TDAH é também uma deficiência na subjetividade da criança e não deve ser vista somente como algo patológico a ser tratado apenas com medicação. Quando necessário sim, deve-se usar medicamentos, mas é preciso um outro olhar e a psicanálise oferece essa possibilidade há muito tempo.
Padre Sérgio Lasta, SAC
O autor, colaborador desta revista, é psicólogo, doutor
em Educação e padre palotino em Santa Maria (RS)
sergiolasta@gmail.com