Carta a Diogneto
Há muito tempo, na época do início do Cristianismo, um pagão quis saber o que era esta nova religião e o que distinguia os cristãos das demais pessoas.
A resposta foi uma carta apologética que tentou resumir os principais pontos da fé cristã, sendo considerada uma das joias da literatura cristã primitiva. O texto, escrito em grego, tem data aproximada do ano 120 e não se conhece o autor.
Esse manuscrito foi encontrado somente em 1436 pelo clérigo latino Tomás de Arezzo, em Constantinopla, junto com outros textos destinados a esse tal de Diogneto, que parecia ser culto e estava muito interessado naquela nova religião que se espalhava rapidamente pelo Império Romano.
Alguns aspectos que chamavam a atenção dos pagãos eram: a coragem dos cristãos em enfrentar todo tipo de suplício e perseguição por causa da fé, além do grande amor que eles tinham a Deus.
A carta é longa. Ela está dividida em doze capítulos e nos faz pensar no que nos distingue, como cristãos, nos dias de hoje. Vou resumir alguns pontos que considero mais importantes.
O ESSENCIAL
O autor da carta assinala que os cristãos rejeitam a idolatria, abandonando hábitos enganadores, e só adorando o verdadeiro Deus.
Os cristãos não se distinguem de outras pessoas por terem uma língua própria, cidades próprias ou por terem uma pátria onde se isolam. Os cristãos estão em todas as partes e se integram aos outros povos, porque sabem que a verdadeira pátria não é terrena, é celestial.
Assim como a alma faz parte e pertence a todo corpo, os cristãos com sua fé pertencem ao mundo. Sua fé invisível está presente em um mundo visível, e é essa fé que sustenta o corpo e dá sentido ao mundo, considerado como uma prisão.
O autor da carta enfatiza ainda a origem divina do Cristianismo. Deus, o Supremo Criador, enviou até nós seu único Filho. Enviou-o como homem entre os homens, nos dando esclarecimentos sobre sua vontade de nos salvar, para nos chamar para a morada divina e não para castigar. Ele nos dá liberdade de escolha, mas virá para nos julgar, tendo poder para isso.
A essência da mensagem divina é de amor, não de medo ou de castigo. Antes da vinda do Salvador como Deus era representado? Por uma chama ardente? Por um vento que sopra com vigor?
Jesus vem esclarecer que ele é a encarnação do Messias prometido para a nova aliança com Deus. “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida: ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14,6).
Deus se compadeceu da humanidade e por isso enviou o seu Filho para nos resgatar: o justo pelos injustos, o incorruptível pelos corruptíveis, o imortal pelos mortais. Somente o Filho de Deus poderia acabar com nossa natureza impotente para obter a salvação e nos indicar o caminho da verdadeira vida.
ATUALMENTE
E nos dias de hoje? O que nos distingue como cristãos? A resposta é ampla, mas poderíamos aproveitar muito do que contém a carta a Diogneto e ampliar. Por exemplo: no sermão da montanha
(Mt 5,1-11) os cristãos são chamados a serem humildes, mansos, pacíficos, misericordiosos, com um coração puro e por fome de justiça.
Será que conseguimos ver nas pessoas que sofrem a imagem de Jesus sofredor? Conseguimos ser o sal da terra sendo diferentes para melhorar o mundo? Nesta realidade com tantas guerras, trevas e desigualdades será que conseguimos ser a luz do mundo?
Outro aspecto inquietante: nosso planeta tem cerca de oito bilhões de pessoas, sendo que um pouco mais de dois bilhões são cristãos. Será que nosso coração anseia por levar o Evangelho (a Boa Nova) a todos os recantos do mundo?
Que neste ano que se inicia predomine a paz e a fraternidade entre os povos, e que no nosso coração haja um ardor missionário para que possamos repartir este grande tesouro que é a divina mensagem de Jesus Cristo!
CARLOS ALBERTO VEIT
O autor, colaborador desta Revista, é professor,
jornalista e psicólogo clínico em Porto Alegre (RS)
oficialcarlosveit@gmail.com