É tempo de ascender velas
É tempo de ascender velas
Entre as datas especiais deste mês está o Dia de Finados, época de homenagearmos nossos entes queridos que já partiram para o encontro com o Pai.
Os cemitérios ficam lotados de pessoas que levam flores e acendem velas, que é uma tradição antiga e que se mantém até os dias de hoje. Há uma mistura de tristeza, saudade e esperança. Vamos refletir um pouco sobre elas?
Se você for um bom observador já deve ter percebido que em muitas de nossas igrejas há um espaço para acender velas, independente do dia e do mês do ano.
Historiadores afirmam que a origem da vela remonta há cerca de 3.000 anos antes de Cristo, na região onde hoje é o Egito e também na Grécia. Não era como a vela atual, mas sua função era a mesma: um bastão para iluminação artificial.
No Oriente também surgiram outras utilidades para a vela, como a de não deixar a alma do falecido no escuro e iluminar o caminho que ela deveria percorrer para chegar “no outro lado do rio da vida”, ou seja, entrar na eternidade. Será que até hoje não se mantém esse costume com a cerimônia do assim chamado “velório”?
Já no nosso país, no período colonial, muitas pessoas que viviam em regiões remotas, afastadas dos centros urbanos, costumavam deixar velas acesas nas janelas quando esperavam alguma visita. Assim, os viajantes não ficariam desorientados na escuridão da noite.
Nos dias atuais, porém, o hábito de acender velas pode ter ganho outros significados.
PERGUNTA
Certa vez, no interior de uma igreja e fora do horário de missa, eu percebi que uma senhora da terceira idade estava acendendo muitas velas na frente de um altar lateral do templo. A imagem que se destacava e era reverenciada era a do Menino Jesus de Praga.
Não conhecia aquela pessoa, mas com muito respeito me aproximei dela e perguntei: “Por que a senhora acende tantas velas?”
Ela me olhou com muita calma e me disse de uma maneira que eu nunca esqueci. “É pra não deixar morrer a esperança, meu filho”.
Resposta curta, mas muito profunda. Conversei com ela mais um pouco e fiquei conhecendo várias das esperanças dela. Eram, na sua maioria, em relação aos filhos, aos netos, à sua saúde e por aí vai. E também era para agradecer a Deus e ter sempre mais esperança de que Ele a recebesse na eternidade.
Depois que nos despedimos, percebi que, mesmo sem querer, eu havia recebido uma pequena aula de catequese, que me foi dada por uma pessoa que tinha muita fé e com toda a sabedoria que seus cabelos brancos já tinham lhe proporcionado.
ILUMINADORES
O acender de velas também tem outras utilidades, como a de oferecer um foco para quem está meditando. Além disso, a vela acesa pode representar a nossa vida: ela vai terminando, mas o importante é que ela continue iluminando, dando esperança, ou seja, sendo útil.
Uma vela que nunca foi acesa nunca acaba, mas também não teve serventia alguma. Tal qual o grão de trigo, se não morrer não gera vida. Eis uma grande analogia para o amor: morremos um pouco por nós para irmos renascendo e dando vida aos outros.
No mundo atual, quando encontramos muitas pessoas desanimadas, solitárias, sem sentido para a vida, acender velas também representa contagiarmos os outros com a chama da nossa fé cristã.
Como é importante não perdermos a esperança que a fé nos dá! Por isso é tão necessária a conversão permanente, pois ninguém pode manter acesa a sua fé se não se renovar com as orações, a frequência aos sacramentos, a leitura da Bíblia e a partilha com os irmãos.
Amor exige presença. Isso vale para nossa família, nossas amizades e principalmente para com o Criador. É dele que brotam as fontes de água viva, mas para conhecermos e nos alimentarmos dessa vida na fé precisamos sempre ir nos aproximando daquele que está à nossa porta e bate. Bater porque quer entrar no nosso coração, na nossa vida e transformá-la para o bem de muitos.
Que esse período, que para muitos é de tristeza por lembrarem de quem já partiu e faz falta, seja também de muita esperança. Sim! É tempo de acendermos velas e mostrarmos a todos que nossa fé não diminuiu e nem é em vão.
Temos um Salvador que morreu por nós, por nossos pecados, e que nos mostra com afetividade qual o caminho para a Vida Eterna, quando a esperança se transformará na certeza da união com nossos entes queridos e com aquele que é o Amor Maior! Amém!
O autor, Carlos Alberto Veit, é colaborador desta Revista, professor, jornalista e psicólogo clínico em Porto Alegre (RS)
Texto publicado na edição de novembro de 2022