Quando uma criança sofre violência
Temos observado com frequência atos de violência contra crianças, sendo tais atos praticados por pais e/ou mães e/ou responsáveis.
Essas atitudes fazem parte de um contexto no qual as famílias estão envolvidas nos últimos tempos: o isolamento social. Porém, não podemos jogar toda a culpa nesse isolamento porque a violência contra as crianças sempre existiu e atinge todas as classes sociais.
Talvez o confinamento tenha exacerbado ainda mais porque existe uma pressão muito grande sobre todos e nem todos conseguem suportar momentos de tensão de uma forma mais equilibrada. O isolamento levou muitas pessoas a exporem seu lado mais violento e destrutivo. Portanto, foi principalmente no âmbito familiar que a violência explodiu e muitas crianças foram vítimas de pais e/ou mães e/ou cuidadores que não conseguem suportar a pressão e as tensões a que foram impostas.
Para entender a violência contra a criança é preciso ter presente o que é violência doméstica: é todo ato de omissão que acontece no âmbito familiar, provocando danos físicos, sexuais e psicológicos à vítima. A violência contra a criança se espalhou silenciosamente de forma progressiva. Silenciosamente porque nem todos os casos são denunciados. São atos praticados por adultos no ambiente familiar na maioria dos casos. Por pessoas que convivem com a criança que sofre violência, sem distinção de classe social, gênero, cultura, educação e política. Portanto, é preciso enfrentar o problema.
Muitas vezes, quando uma criança sofre violência na família, o problema é detectado na escola ou em outros lugares por onde a criança circula. Mas, nos deparamos com a mesma situação em todo ato de violência: a criança tem dificuldade para denunciar o que está acontecendo com ela.
A omissão ocorre quando o adulto não se preocupa em expor a criança a perigos, como acidentes; quando deixa de proteger a criança e não cuida das suas necessidades básicas, como saúde, higiene, educação e alimentação. Isso não está associado às condições de vida como a pobreza, por exemplo.
A violência física consiste em causar dor a uma criança que vai desde um tapa até o espancamento fatal que poderá levar à morte. O corpo da criança emite sinais do que está acontecendo como: contusões por quedas ou golpes com algum objeto, marcas pelo corpo provocadas por queimaduras ou outros objetos quentes, ferimentos, fraturas em alguma parte do corpo, dificuldades para se movimentar, como mancar, dentre outros.
A violência sexual tende a ser praticada por alguém que a criança conhece, geralmente um familiar em quem ela confia. Essa violência poderá ter ou não contato físico. Vai desde palavras insinuantes, carícias, beijos, toques e exibição dos órgãos genitais até o ato violento em si.
A criança irá apresentar em seu comportamento e em seu corpo o que está acontecendo, tais como: dificuldade para andar e sentar, dor ou coceira em seus genitais, sinais psicológicos, sangramentos sobretudo nas partes mais íntimas; comportamento agressivo, raiva, fuga ou mau desempenho escolar. Existem muitos outros sintomas além desses. Esse tipo de violência denuncia o relacionamento dos pais ou responsável com a criança.
A violência psicológica é a mais difícil de ser detectada num primeiro momento. Caracteriza-se quando um adulto insulta uma criança, a humilha, despreza, aterroriza e a desrespeita. Muitas vezes, tais atitudes são justificadas por quem pratica como uma forma de corrigir a criança. Mas é preciso ser violento para isso? Porém, a criança irá denunciar o que está acontecendo ao fazer xixi na cama, medos exagerados, se sente deprimida, tem pesadelos, se isola e poderá até acreditar que é uma pessoa inútil.
Em muitos casos se conjugam os tipos de violência. Por exemplo: na violência física pode haver também violência psicológica e/ou sexual. Porém, é importante entender que a violência contra criança, seja qual for, tem efeitos devastadores e poderá roubar a infância de uma criança, arruinar seus sonhos e gerar profundas sequelas por toda a sua vida. Portanto, é preciso denunciar e enfrentar o problema através do conhecimento sobre o tema.
A violência contra crianças ocorre bem mais do que imaginamos; muitas vezes a criança é silenciada por medo das ameaças de quem a faz sofrer, independentemente do tipo de violência que sofre. É preciso estar atento para perceber quando uma criança sofre algum tipo de violência.
O autor, Sérgio Lasta, colaborador desta revista, é psicólogo, doutor em Educação e padre palotino em Santa Maria (RS).
Texto publicado na edição de agosto de 2021.