Padre Cícero e Beata Benigna – A Santidade no Estado do Ceará
A diocese de Crato, criada em 1914, situa-se no extremo sul do Estado do Ceará e inclui os municípios de Crato, sede da Diocese, Juazeiro do Norte e Santana do Cariri.
No município de Crato nasceu o Padre Cícero Romão Batista, em 24 de março de 1844, foi ordenado sacerdote, em 30 de novembro de 1870, e celebrou sua primeira missa em Juazeiro do Norte na noite de Natal daquele mesmo ano. Padre Cícero foi o primeiro prefeito de Juazeiro do Norte, em 1911, vice-governador e deputado federal, mas não assumiu o cargo. Encontrou-se, ao menos uma vez, com o cangaceiro Lampião. O túmulo de Padre Cícero é visitado por milhares de peregrinos durante todo o ano em agradecimento pela sua bondade e caridade.
Em 2001, a Diocese de Crato constituiu uma comissão a fim de preparar uma revisão histórica sobre a causa de beatificação de Padre Cícero. Em 30 de maio de 2006, 254 bispos brasileiros pediram o reconhecimento das ações pastorais e apostólicas do Padim Ciço e, em 27 de outubro de 2014, a Congregação para Doutrina da Fé indicou o caminho da reconciliação. Dom Magnus Henrique, bispo diocesano, em 12 de maio de 2022, por ocasião da visita Ad Limina (visita dos bispos ao Papa, realizada a cada cinco anos, para demonstrar-lhe comunhão e para venerar os túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo) entregou ao Papa Francisco uma carta, expressando o desejo dos milhares de devotos de ver o Padre Cícero declarado santo pela Igreja. Em 24 de junho de 2022, foi aberto o Processo de Beatificação. A partir dessa data, o Padre Cícero recebeu o título de “Servo de Deus”.
Beata Benigna
No Sítio Oiti, no município de Santana do Cariri, nasceu a Beata Benigna Cardoso da Silva, em 15 de outubro de 1928. Ficou órfã de pai e mãe muito cedo, sendo adotada juntamente com seus irmãos. Sua infância foi cercada pela alegria das inocentes brincadeiras, fez a Primeira Eucaristia e participava assiduamente das missas, seguia os mandamentos da Lei de Deus e fazia penitência nas primeiras sextas-feiras em devoção ao Sagrado Coração de Jesus.
Aos 13 anos de idade, Benigna recebeu proposta de namoro do jovem Raul Alves. Depois de várias tentativas sem sucesso, numa tarde de sexta-feira, em 24 de outubro de 1941, o jovem abordou-a sexualmente, mas ao perceber que Benigna nada aceitaria, foi tomado por um ódio monstruoso. O jovem pegou um facão e a golpeou, cortando-lhe três dedos da mão, numa clara tentativa de autodefesa. Depois foi atingida também na testa, nas costas e, por fim, no pescoço, golpe que deixou-lhe a cabeça quase decepada. O assassino foi preso e depois, arrependido, voltou ao local do crime para pedir perdão. Padre Cristiano Coelho, vigário da paróquia na época, anotou ao lado do registro de Batismo de Benigna: “Morreu martirizada (…), heroína da castidade, que sua santa alma converta a freguesia e sirva de proteção às crianças e às famílias da Paróquia. São os votos que faço à nossa santinha”.
A Santa Missa com o rito da Beatificação foi celebrada na cidade de Crato sob a presidência do Cardeal e Arcebispo de Manaus, Dom Leonardo Steiner, representante do Papa Francisco, em 24 de outubro de 2022. Na Audiência Geral, em 26 de outubro de 2022, o Papa Francisco disse que a jovem mártir, seguindo a Palavra de Deus, manteve pura a sua vida, defendendo a sua dignidade, e pediu a intercessão de Nossa Senhora Aparecida para que livre o povo brasileiro do ódio, da intolerância e da violência.
Padre Denilson Geraldo, SAC
O autor, colaborador desta Revista, é padre palotino e Doutor em Direito Canônico
denil.ge@gmail.com