Artigos › 19/03/2021

O coração paterno de São José

O Papa Francisco publicou, em 08 de dezembro de 2020, a Carta Apostólica Patris Corde sobre a pessoa de São José, celebrando o 150º aniversário do título de Padroeiro da Igreja Católica conferido pelo Beato Pio IX.

A Carta Apostólica é uma reflexão pessoal do Papa Francisco, inserida no contexto da pandemia da Covid-19, para mostrar a pessoa de São José à Igreja como um modelo de ajuda, de amor à família, de trabalho simples e oculto.

Em meio à pandemia, podemos reconhecer a presença da espiritualidade de São José no cotidiano com sua característica discreta, dentre aqueles que estão trabalhando pelas famílias e pelo social, por exemplo: médicos, enfermeiras, balconistas de supermercado, faxineiros, transportadores, policiais, voluntários e principalmente os padres e os religiosos.

A referência à vida de São José foi seu matrimônio com Maria e a paternidade adotiva de Jesus. Por causa de sua missão na família de Nazaré, São José, Pai amado, sempre foi estimado pelo povo cristão. Essa devoção é comprovada pelo número de congregações religiosas, de associações, de dioceses dedicadas a São José e, principalmente, pelo número de paróquias que o tem como padroeiro.

A devoção dos cristãos a São José, Pai na ternura, afirma Francisco, faz ressaltar sua caridade com a família de Nazaré como uma característica fundamental de sua personalidade. Jesus “crescia em sabedoria, em idade e em graça, diante de Deus e dos homens” (Lc 2,52) e viu a ternura, sinônimo da misericórdia de Deus Pai, na pessoa de São José.

Neste tempo de pandemia, contrariamente à ternura, a violência doméstica teve um crescimento no Brasil e muitos lares, que deveriam ser o lugar de segurança contra a violência das ruas, se transformaram em lugar de ameaça à vida. A paternidade de São José é um incentivo para promover o respeito e a compreensão entre as pessoas.

São José, Pai trabalhador, desde a primeira encíclica social Rerum Novarum de Leão XIII, foi considerado como o carpinteiro que trabalhou honestamente para sustentar sua família. Jesus aprendeu com ele o valor, a dignidade e a alegria que significa comer o pão de cada dia como fruto do trabalho. Na verdade, um relacionamento totalmente único liga a família ao trabalho e possibilita a fundação de novas famílias como meios de subsistência e promotoras da dignidade humana.

São José, Pai com coragem criativa, afrontou o problema da migração, conduzindo a família de Nazaré ao Egito. A Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, em 20 de junho de 2020, acrescentou três invocações à Ladainha de Nossa Senhora: Mãe da Misericórdia, Mãe da Esperança e Conforto dos Imigrantes. Maria Santíssima conheceu os dramas que passam os imigrantes e São José é verdadeiramente um patrono para aqueles que têm que deixar suas terras por causa das guerras, do ódio, da perseguição e da miséria.

São José, Pai na sombra de uma vida oculta, é modelo para a sociedade atual que muitas vezes rejeita a função paterna. O Papa Francisco diz que ninguém nasce pai, mas se torna pai. No entanto, alguém não se torna pai apenas porque gera um filho, mas por que exerce com responsabilidade a paternidade. Ser pai significa apresentar ao filho a realidade, não para mantê-lo aprisionado e nem para subjugá-lo, mas para torná-lo capaz de opções que levem à liberdade.

São Vicente Pallotti foi muito devoto de São José e dizia: “Recomendo tudo, tudo, tudo, vamos fazer tudo e difundir a devoção de São José Esposo de Maria” (OCL I, pp. 45, 61). Assim como São José, São Vicente Pallotti trabalhou incansavelmente em favor dos imigrantes, principalmente para a construção da Igreja italiana em Londres; manifestou a misericórdia (ternura) divina por meio de seu ministério sacerdotal; foi muito amado pelo povo; foi um apóstolo, um trabalhador incansável; e exerceu a paternidade espiritual de modo universal através de sua visão do apostolado Católico.

Portanto, em 19 de março celebramos São José e encontramos muitos elementos de sua vida na espiritualidade de São Vicente Pallotti.

O autor, Padre Denilson Geraldo, colaborador desta Revista, é padre palotino, membro do Conselho Geral da SAC e Doutor em Direito Canônico.  

Texto publicado na edição de março de 2021.

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