Notícias › 17/04/2019

O agora de Deus!

“Vocês, queridos jovens, não são o futuro, mas o agora de Deus”, declarou o Papa Francisco na missa de encerramento da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), no Panamá, em 27 de janeiro deste ano. Essa frase do Pontífice, que já participou de três desses encontros mundiais, arrancou sorrisos, aplausos e lágrimas das mais de setecentas mil pessoas presentes no Campo Juan Pablo II e das milhões espalhadas pelo mundo.

Contudo, mais do que a emoção, a frase de Francisco se soma à da JMJ 2013, no Brasil, onde ele falou aos quatro ventos: “Ide, sem medo, para servir”, e da Jornada de 2016, quando falou que os jovens precisam calçar seus sapatos para mudar o mundo. Isso é um voto de confiança na juventude e, certamente, palavras como as do Papa empoderam esses agentes transformadores da sociedade mundial.

Fala-se tanto em dar espaço ao “novo”, o novo da economia, da política, mas pouco se fala em dar espaço ao jovem, para que ele dê sua contribuição efetiva nos diversos âmbitos da sociedade e também na Igreja. Jovens empoderados são capazes de dialogar com o diferente, de estar no mundo e manter suas bases de fé sólidas e também de construir uma comunidade eclesial mais viva.

Essa é uma crítica e uma mea-culpa que precisamos fazer a nós mesmos enquanto Igreja: meu bairro tem jovens? Onde eles estão? Nosso jeito é capaz de atraí-los para a comunidade? Percebam que nem toco no assunto da missa. Penso que, muitas vezes, o jovem não é tocado pelas celebrações. Já ouvi várias pessoas dessa faixa etária me dizendo que saíram do mesmo jeito que chegaram. Aqui cabem mais reflexões: os jovens que estão inseridos no ambiente eclesial, seja pela catequese, pelo grupo ou mesmo pelas equipes de liturgia, são ouvidos? Eles recebem autonomia para coordenarem os serviços ou mesmo os cantos do culto comunitário?

Você pode até achar estranho um texto com tantas perguntas, mas recordo o que escreveu São João Paulo II, em sua mensagem para a Jornada Mundial da Juventude de 1989, em Santiago de Compostela, na Espanha. Para ele, “cada nova geração precisa de novos apóstolos. Vocês são os primeiros apóstolos e evangelizadores do mundo juvenil, atormentados, hoje, por tantos desafios e ameaças”. Há trinta anos, o Papa falava da missão e do discipulado da juventude. Passadas três décadas, em diversas partes do Brasil, os jovens preferem viver seu “apostolado” no mundo, pois ali são empoderados, já que muitas vezes esse voto de confiança não brota da comunidade.

Escrevo isso para recordar que o Domingo de Ramos, neste ano celebrado em 14 de abril, é o dia da Jornada Mundial da Juventude, instituído por São João Paulo II em 1986. Todos os anos, nessa data, a Igreja se reúne para celebrar a vida e a missão dos grupos de jovens, pastorais e movimentos de evangelização. Aqui no Brasil, diversas dioceses celebram, nesse dia, a Jornada Diocesana da Juventude, um momento ímpar para que a galera “mostre a sua cara”, sua camiseta, sua bandeira e diga para as lideranças eclesiais: “Opaaa, estou aqui… olhem pra mim”.

Em sua reflexão, durante a Vigília da JMJ no Panamá, Francisco surpreendeu ao dizer que Maria foi a influencer de Deus em uma época em que não existiam redes sociais. O Pontífice explicou que o “SIM” corajoso da Mãe de Jesus, ao dizer: “Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38), é um sinal de encorajamento para os jovens. Ao finalizar a Jornada de 2016, na Polônia, o Papa recordava do passado como experiência, e do futuro como esperança. “Que devo fazer no presente? Ter coragem.

Ter coragem! Ser corajoso, ser corajoso, não se assustar”.

O Domingo de Ramos é o início da Redenção, a Semana Santa é a clara evidência de que o jovem Jesus Cristo teve coragem e foi até o fim. Ele, filho da jovem corajosa Maria de Nazaré, empoderou-se, comprou brigas com os “grandes de seu tempo”, mas soube ser doce para dialogar e não se impor a si próprio, já que Ele é a Verdade. Basta recordar o menino aos doze anos no Templo discutindo com os doutores da Lei.

A juventude, como o “agora de Deus”, precisa também se empoderar. Não bastam as comunidades darem espaço ou ouvirem os jovens. É preciso que essa galera chame a responsabilidade para si e não tenha medo de enfrentar as estruturas de uma sociedade arcaica e de uma Igreja muitas vezes fechada em si. Costumo dizer que se for para ser firme, inclusive com o clero, pelo bem da comunidade, o jovem deve fazê-lo.

Finalizo essa reflexão já deixando uma pista do artigo do próximo mês: a juventude sabe se comunicar demais. Os jovens estão em rede, comunicando-se para fora, mas muitas vezes pecam quando se destinam à própria casa. A Igreja também, mesmo com seus quase dois mil anos, está aprendendo a se comunicar mais e melhor. Que tal unir a Igreja e a juventude nos processos comunicativos? Tem tudo para dar certo e isso empodera e valoriza o jovem. Mas é preciso ser feito agora, porque a juventude é o agora de Deus. Quem está disposto?

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