Artigos › 08/02/2024

Montes e montanhas como espaço de encontro

Todo início é um desafio, uma promessa e uma superação. Assim é na vida acadêmica, profissional, afetiva, espiritual.

 

 

Porque iniciar significa que já foi dominada a realidade vivida até este momento e que se possuem instrumentos para seguir adiante por caminhos ainda não conhecidos ou apenas vislumbrados

Como um monte que, do seu sopé parece tão alto e inatingível, inibindo o caminhante que começa a escalada, assim, também, é o percurso de ascese à intimidade com Deus. A montanha, o monte é, no imaginário religioso, expresso na Sagrada Escritura, o espaço privilegiado do encontro com Deus e, portanto, é algo a ser conquistado num ciclo de empenho, descanso, resvaladas, tropeços e recomeços. É o que o orante salmista, que enfrenta suas perdas e lutos pensa ao elevar os olhos e o pensamento para o alto: “Ergo os olhos para os montes: de onde virá meu socorro?” (Sl 121,1).

O início da subida é um desafio porque requer um redirecionamento das energias para poder focar na meta que se apresenta e a qual deseja. O início é, também, uma promessa pois só se dispõe a fazer esta jornada quem deposita suas esperanças em algo superior a si mesmo, fazendo desta subida um caminho de humildade. O início tem já em mira o sucesso e a chegada ao topo, por isso é um convite à superação. Olhar desde o seu lugar confortável faz o monte parecer inalcançável adiando, desta forma, a visão panorâmica do alto onde a liberdade é respirada. Mas, ao atrever-se a subir, as emoções, que impediam o seu progresso, são superadas e é possível ver o mundo, as pessoas e a vida por uma nova perspectiva.

A trajetória do enfrentamento das perdas e da elaboração do luto segue a mesma lógica da escalada do monte. Mas, para ter sucesso a espiritualidade deve ser a companheira de percurso. O salmista que se pergunta diante do monte acerca da ajuda de que necessita é o mesmo que responde: “O meu socorro vem de Iahweh, que fez o céu e a terra” (Sl 121,2).

O novo ano chega com novos desafios. Fixe o olhar para os montes e atreva-se a subir para conhecer a vida nova que lhe espera.

 

SONIA SIRTOLI FÄRBER

A autora, colaboradora desta Revista,
é Tanatóloga e doutora em Teologia
clafarber@uol.com.br

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