Artigos › 12/10/2023

LIMITES qual sua importância para as crianças?

O ser humano, para construir a civilização e viver em grupo, precisou impor limites aos seus próprios impulsos agressivos e destrutivos.

 

Caso contrário seria muito difícil, pois não haveria limites, o que poderia levar ao caos e à própria destruição. Por isso me proponho a refletir sobre algumas ideias acerca do limite.

A tendência de toda pessoa está em satisfazer seus desejos e vontades, mas nem sempre isso é possível, pois a própria cultura impõe limitações e controla. Mas entender a importância que nem sempre se pode fazer tudo o que se deseja tem a ver com os afetos desde a infância, período no qual a criança se sente amada pelos pais. Sentir-se amado abre a possibilidade de se sentir cuidado, acolhido e seguro. Para a criança sentir-se amada é primordial. Mas sentir-se amada não anula a necessidade de limites.

Assim, podemos pensar que desde o útero materno existem limites, neste caso, de espaço. Ali o bebê se sente seguro, alimentado e ligado à mãe pelo cordão umbilical e não precisa fazer nenhum esforço para ter suas necessidades atendidas. Porém, quando nasce tem a sua primeira frustração, sente alguns incômodos e não terá suas vontades satisfeitas de imediato. Ou seja, depende da mãe, principalmente, e isso é uma das primeiras frustrações que se terá pelo resto da vida.

 

Lidar com as frustrações

É importante aprender a lidar com as frustrações desde muito cedo. O quanto é importante entender o significado do “não” que o bebê recebe da mãe, do pai e depois de outras pessoas e, ainda mais, com os “nãos” que a própria vida vai dando. Então, é pela frustração que a criança vai entendendo os limites, que nem tudo será do jeito como ela deseja. E assim, se aprende a lidar com a espera e vontades não satisfeitas.

Entender as frustrações possibilita compreender a realidade e não achar que tudo deve ser do jeito que se imagina ou deseja. Dessa forma, aquele mundo perfeito da vida dentro do útero não existe mais e a existência impõe limites e interdições. Mas quem faz isto? Quem diz não às crianças? Os pais em primeiro lugar.

Ter esses cuidados por parte dos pais facilita o amadurecimento emocional da criança que, quando chegar à vida adulta, saberá como lidar com aquilo que não deu certo, porque tem um bom desenvolvimento afetivo e emocional. Isso começa desde cedo: quando o bebê passa a entender que existe uma rotina, horários. Que existem regras em casa e também em outros espaços fora do lar como na rua, na escola etc. Portanto, as regras são construídas dentro de casa e a criança vai entendendo que elas existem para serem cumpridas em todos os lugares onde as pessoas estiverem. Contudo, quando a criança não obedece, é importante que os pais tenham uma conversa e mostrem a importância das regras e que isso não é opressão. Com isso tudo, mostrar firmeza e o “não”, muitas vezes, provoca a raiva da criança que irá reagir quando uma vontade sua não for atendida. Porém, é importante que os pais permitam que certas vontades das crianças sejam satisfeitas, e não somente dizer “não” para tudo.

 

Importância dos limites

Segundo a psicóloga Viviane H. Brettas: “Os limites são importantes, dão contorno para a criança e devem ser vistos como uma prova de amor, mesmo que ocasionalmente aparentem dor”. Mas é importante ter presente, como sugere a psicóloga citada: “Não existem manuais de como criar um filho perfeitamente, pois se houvesse, todos seriam perfeitos. Além disso, cada criança é única”.

Os limites possibilitam que sejam construídas boas relações humanas, harmonia, indispensáveis para o bom desenvolvimento da própria pessoa ainda na infância e da humanidade. Existem restrições, barreiras e é na infância que começa o aprendizado e a internalização dos limites.

A construção de limites está diretamente implicada na capacidade da criança se socializar e conviver bem com as outras pessoas, considerando os próprios limites e os dos demais. Por que na infância? Porque nessa fase as crianças têm maior potencial de internalização das regras para o seu comportamento. A criança entende que as outras pessoas, os pais, também têm limitações e que, às vezes, não poderão atendê-la como deseja, pois o mundo não é perfeito como era o útero.

 

Padre Juliano Dutra, SAC

O autor, colaborador desta Revista, é padre
Palotino e professor de História da Igreja na
Faculdade Palotina – Fapas, em Santa Maria (RS)
E-mail: julianodutr@gmail.com

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