INÍCIO DE NOVO ANO
O começo do ano nos convida a pensar sobre nossa forma de ativar este “grande tesouro” que é o tempo.
Deus nos concede este ano para que multipliquemos a vida, enriquecendo-a de sentido, qualidade e calor humano; é uma nova oportunidade que Ele nos concede para crescer e ajudar a crescer, para alcançar uma experiência nova da vida, de encontro com Ele, com os outros, conosco mesmos.
Talvez muitos se perguntem para onde vai nosso mundo, surpreendidos e preocupados pelo crescimento de fenômenos desconcertantes. Em muitos países triunfam líderes populistas, manejados por forças ocultas sem escrúpulos e marcados por discursos intolerantes, preconceituosos e julgamentos moralistas; a corrupção vai lançando raízes em todos os ambientes; os conflitos e as rupturas se acentuam; o sistema de valores e conhecimentos está mudando profundamente. Trata-se, pois, de uma crise global, embora às vezes possa parecer local ou inclusive pessoal.
Como ser presença diferenciada em meio a muita gente desconcertada e desesperançada? Esta deve ser a marca característica dos(as) seguidores(as) de Jesus: o otimismo frente à realidade e a esperança diante daquilo que vem. Para muitos pode lhes causar estranheza que a Igreja faça coincidir o primeiro dia do novo ano civil com a festa de Santa Maria, Mãe de Deus. E, no entanto, é significativo que a Igreja, depois de celebrar solenemente o Nascimento do Salvador, nos motive a começar o ano novo sob a proteção maternal de Maria. Ela nos acompanhará ao longo dos dias com cuidado e ternura de mãe. Ela inspira fé e nossa esperança.
Dia Mundial da Paz
Talvez seja uma das carências que mais afeta o ser humano de hoje, porque a ausência de paz é a prova palpável de uma falta de humanidade em todos os níveis. Não podemos descobrir o que significa paz quando nos vemos cercados de violências e conflitos. Não são as contendas internacionais, por muito danosas que sejam, que impedem os seres humanos de alcançar sua plenitude. Os grandes conflitos têm sua origem em nossos próprios conflitos internos; nossos corações estão carregados de julgamentos, legalismos, moralismos e imposições sobre os outros. O medo daquele que pensa, crê, sente e ama de maneira diferente aumenta as distâncias, cria muros e bolhas de proteção que dão uma falsa sensação de segurança e paz. Nunca se investiu tanto em segurança e, no entanto, a cultura da paz está cada vez mais esvaziada.
O primeiro passo na busca da paz deve ser dado por cada um de nós, caminhando em direção ao nosso próprio interior. Se não conseguimos uma harmonia interior, se não descobrimos nosso verdadeiro ser e o assumimos como a realidade fundamental em nós, nem teremos paz nem a podemos levar aos outros. Este processo de maturação pessoal é o fundamento de toda verdadeira paz. Uma autêntica paz interior se reflete em todas as nossas relações humanas, começando pelos mais próximos.
Interioridade Humana
Quando perdemos o caminho da interioridade, permanecemos na superficialidade de nós mesmos; ali não há húmus onde enraizar a paz; é da superficialidade de nós mesmos que brotam os julgamentos, a indiferença, a atrofia da comunhão, o extravio da ternura, a segregação, constituindo o ambiente favorável para todo tipo de rupturas, conflitos e frieza nos relacionamentos.
Paz reflete harmonia consigo, boas relações com os outros, aliança com Deus, enquanto a violência infecciona os relacionamentos, contamina a convivência, quebra as relações, exclui os mais fracos.
Este é o desafio diante do Novo Ano que se inicia: devemos primar por construir “ambientes de paz”: paz que vem do alto, que brota do interior e aquece nossos corações, plenifica nossas relações e se expande, tal como perfume, em todas as direções.
Feliz Ano Novo, com a bênção de Deus!
PADRE LINO BAGGIO, SAC
O autor, colaborador desta Revista,
é padre palotino em Coronel Vivida (PR)
lino_baggio@terra.com.br