As pessoas enlutadas
Tratar da questão da morte, do sofrimento, do luto experimentado pela perda de um ente querido é algo desafiante e atualmente muito evitado em nossa sociedade. Contudo, o acompanhamento de pessoas que sofreram esta perda, me fez pensar em escrever este texto. Normalmente, elas chegam com o desejo de serem ouvidas a respeito da situação dolorosa que estão vivenciando e de receberem alguma orientação sobre como lidar com os seus sentimentos. Muitas vezes, elas estão muito feridas para receber qualquer tipo de explicação sobre a vontade de Deus ou qualquer reflexão teológica relativa à morte da pessoa querida. Elas estão apenas buscando alguém que possa ouvi-las e assim compartilhar o seu sofrimento.
O que dizer?
Uma questão que normalmente surge logo após a perda de uma pessoa amada é a seguinte: por que Deus permitiu que ele/ela morresse agora? Questões desse tipo não precisam nem devem ser respondidas neste momento porque respondê-las imediatamente não as ajudará a vivenciar o luto. Estas questões não se referem a uma dúvida de fé. Trata-se apenas de uma forma de expressar a dor sentida pela separação da pessoa querida. A melhor coisa a dizer nesta situação é algo como: “Eu não sei exatamente o que lhe dizer agora, mas eu estou aqui e você pode contar comigo”.
Neste momento, somos chamados a ser solidários e a ajudar a pessoa a expressar seus sentimentos; a apoiá-la e a ouvi-la em silêncio acolhedor, manifestando nossa empatia para com ela neste momento de dor e confusão. Ou seja, devemos responder com coragem e paciência quando surgem sentimentos fortes e a pessoa se expressa sem pensar naquilo que está dizendo. Este é o momento de fornecer o apoio de que ela precisa para superar a sua fraqueza emocional.
Nós não podemos eliminar a solidão inerente a uma situação de perda e de luto. Cada pessoa terá que enfrentá-la à sua maneira. Porém, podemos, pelo menos, ajudá-la a eliminar o isolamento que intensifica a dor. Em nossos encontros com pessoas que estão sofrendo com a morte de alguém, precisamos ouvi-las mais do que falar. Além disso, é muito importante sentirmo-nos confortáveis quando ocorre um período de silêncio durante nossos encontros com os enlutados. Precisamos acolher este momento de silêncio sem perguntar o que está acontecendo com a pessoa, pois muitas vezes ela não tem palavras para expressar seus sentimentos.
O que não dizer?
Também não devemos esquecer que cada experiência do luto é única e assim evitar dizer frases como: “Eu sei exatamente como você se sente”; “Meus pêsames, você tem meu apoio”; “Fique em paz, pois ele/ela está no céu”. É muito melhor dizer: “Eu não consigo imaginar exatamente como você está se sentindo, mas, se quiser, compartilhe comigo sua experiência”.
O sofrimento e a morte fazem parte da vida humana, mas tudo não é o fim, pois Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14,6). Ele ressuscitou da morte, e nós somos chamados a seguir seus passos e assim aprender a amar livremente neste mundo que não é seguro, no qual muitas vezes nos defrontamos com o mal. Vivemos em um mundo marcado pela finitude. Nossa esperança é Cristo, e Ele nos ensina a encontrar o Pai, pela ação do Espírito Santo. Quando ouvimos as pessoas enlutadas, somos chamados a ajudá-las a encontrar o Deus Vivo e Verdadeiro, que não está longe de nós quando passamos por perdas significativas e experimentamos o luto. Com elas, podemos levar nossa cruz, seguindo Jesus no caminho para a vida eterna.
Padre Lino Baggio
O autor, colaborador desta Revista, é padre palotino em Coronel Vivida (PR)
lino_baggio@terra.com.br