Artigos › 22/09/2023

ESCREVENDO A SUA HISTÓRIA

Eternizar-se por um ato pode ser sonho, aspiração ou desejo de muitos. Talvez, daí venha o pensamento popular que diz que, uma das três realizações que apontam para uma vida bem vivida seja escrever um livro.

 

É um bom item para a bucket list (lista de desejos), mas há que ser reposicionado e ampliado o seu conceito. Vamos lá.

Primeiramente, escrever um livro não é sinônimo de publicar, e aqui, já ouço um “ufa”! Tantos são os escritos em diários, cartas, cartões e arquivos digitais não publicados, encontrados e lidos por pessoas amadas sofrendo no processo de luto e, que têm novos significados para a sua vida e para a vida daquele que permanece vivo nas palavras que escreveu. Dar-se a conhecer, mesmo sem ver o olhar de surpresa, admiração e gratidão daquele a quem o escritor se apresenta, é um conforto antecipatório, haja vista, que todos caminham para esse desfecho.

Além disso, não se escreve só com palavras. Logo, a multiplicidade de códigos de linguagem é algo a ser explorado e conquistado na bucket list daquele que busca permanecer por suas pegadas. As artes plásticas estão aí para demonstrar formas de deixar mensagens, mesmo que sem letras, mas perenes.

Devemos, também, lembrar que esta escrita que, nem sempre é da sua própria vontade e da sua absoluta autoria faz parte do imaginário popular que, com frequência, ouvimos das pessoas ao dizer entre suspiros e nostalgia: “Minha vida podia ser um livro!”. Os gestos e as atitudes mostram o caminho que cada um tomou para escrever a sua história. E a vida de cada um é o livro, escrito a muitas mãos, que contará para os pósteros a sua existência.

Independente da duração de uma vida, “livros” são escritos e eternizados pelo amor que desconhece o fim. Pode ser um desenho de uma criança que cedo partiu, um bilhete deixado na carteira do colégio ou da faculdade, um cartão no travesseiro ou entre as roupas dobradas na mala… Escrevemos, todos nós, mesmo que não estejamos atentos a isso.

Este meu escrito vem para lembrar que devemos estar conscientes disso tudo e, assim, poder “checar” mais um item na nossa bucket list.

Sonia Sirtoli Färber

A autora, colaboradora desta Revista,
é Tanatóloga e doutora em Teologia
E-mail: clafarber@uol.com.br

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