Em chamas
A expansão desenfreada das fronteiras da agropecuária, transformou os incêndios em rotina no nosso país.
Em 2024, infelizmente, assistimos a mais espetacular estação de queimadas da história do país, mais sinistra do que o Dia do Fogo de 2019 ou o mar de chamas de 2004. Trata-se de um sinal preocupante para o meio ambiente do Brasil e, pela sua amplitude, do planeta. Um dos fatores que aumentou tais eventos, foi a ocupação acelerada das fronteiras agrícolas por parte do agronegócio. Ao longo de décadas, gigantescas florestas e outros ecossistemas foram devorados pelas chamas para criação de gado e plantações.
Só para lembrar, nada disso é uma novidade na nossa história. Lembremos que o primeiro bioma a ser destruído foi a outrora pujante Mata Atlântica, derrubada a ferro e fogo desde os primórdios da colonização. A diferença é que a redução em mais de 90% da cobertura vegetal desse bioma, quase toda de floresta tropical de enorme biodiversidade, durou cinco séculos. O que estamos assistindo ocorre em menos de duas gerações.
Ainda tivemos uma novidade dentro do caos instaurado, agora ardem também grandes áreas cultivadas com cana-de-açúcar no que foi o bioma Mata Atlântica, mais precisamente no centro-oeste paulista. A queima de canaviais em São Paulo só é fenomenal pelo fato de que o início da maior parte dos focos de incêndio foi simultâneo, como detectado pelas imagens de satélite.
Crimes ambientais?
Sim, com toda certeza ficou comprovado que existe uma “quadrilha do fogo” que articula as queimadas em todo o país. Porém, não podemos colocar a culpa somente nesse fato. Passamos por uma grande estiagem como nunca vista. E, muito disso, é consequência de antigas queimadas que derrubaram nossas florestas; bem como do consumismo desenfreado que fez as cidades avançarem como “gafanhotos” sobre as florestas. Somos, cada um de nós, de uma forma ou outra, responsáveis pelo cenário que se apresenta hoje no meio ambiente. Contudo, essa postura precisa mudar para que possamos ao menos sonhar com um futuro sustentável.
O Pantanal será lembrado em fotos?
Os números para este bioma são assustadores. A área queimada aumentou 2362% em 2024, em comparação com o primeiro semestre de 2023 e 529% a mais em relação à média dos últimos cinco anos. E como a temporada ainda segue, eles podem piorar muito até o fim do ano. Espera-se que a área queimada chegue a 3 milhões de hectares. Estes dados estarrecedores indicam que o ano recorde de área queimada, 2020, já foi superado em 54%.
Diante disso, percebe-se um claro descaso em relação à preservação do meio ambiente, pois há maior preocupação com a produção econômica, o agronegócio e as grandes madeireiras do que com o uso ecológico e sustentável dos biomas.
Segundo o MapBiomas, somente a Amazônia perdeu para o desmatamento e as queimadas, de 1985 até 2018, mais de 720 mil km² de cobertura vegetal, algo equivalente a todo o território chileno.”
Tá… mas podemos mudar esse panorama?
A grande solução para as queimadas seria a interrupção desta prática por parte da população. Contudo, não sejamos ingênuos, uma vez que tal ação é histórica e acompanha os seres humanos desde seus primórdios.
Então, ao menos, evite jogar bitucas de cigarros em áreas de vegetação seca. Não coloque fogo em lixo, mesmo que nas residências ou áreas abertas, pois uma fagulha pode ser transportada pelo vento e atingir áreas distantes, dando início a um outro foco de queimada.
E claro, precisamos de um plano governamental sério para o reflorestamento e proteção de nossas florestas. A solução existe, mas precisamos parar de falar e lamentar sobre esse assunto e agir de forma séria, antes que tudo vire cinzas!
Juarez Rodolpho dos Santos
O autor, colaborador desta Revista, é designer gráfico em Imbítuba (SC)
juarezrodolpho@gmail.com