Artigos › 09/11/2021

A missão apostólica dos arquivos da Igreja Católica

A documentação conservada nos arquivos da Igreja Católica é um patrimônio valioso para a evangelização e para a história da humanidade

É uma quantidade incalculável o material conservado nos arquivos do Vaticano desde os primeiros séculos do cristianismo; toda documentação produzida é até hoje administrada pelos mosteiros, dioceses, paróquias, universidades católicas, associações de fiéis, obras de assistência social, hospitais e pela vida consagrada nas diversas instâncias de governo (casa, província, governo geral).

Os arquivos eclesiásticos transmitem a história de fé do Povo de Deus e ecoam a encarnação do Verbo. De fato, a fé encarna-se na história humana e os arquivos documentam as consequências na nossa vida dos passos de Jesus Cristo nesse mundo. A documentação das fontes históricas liga a Igreja, partindo de Jesus e passando pelos escritos da primeira comunidade apostólica e de todas as comunidades eclesiais até os dias de hoje, numa ininterrupta continuidade do processo de evangelização das instituições em particular e de toda a Igreja. Na especificidade histórica das comunidades, documentada e conservada nos arquivos, mostram-se

os vestígios da ação de Cristo que fecunda a sua Igreja, sacramento universal de salvação, e a insere nos caminhos da humanidade. O Papa Paulo VI tratou desse argumento no discurso aos arquivistas eclesiásticos em 26 de setembro de 1963.

Bens culturais da Igreja

Em 02 de fevereiro de 1997, a Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja, instituída pelo Papa João Paulo II, publicou o documento sobre a função pastoral dos arquivos eclesiásticos.  O documento ressalta a importância da transmissão do patrimônio escrito que age como uma memória da evangelização e como instrumento pastoral.

Para tanto, é necessário investimento financeiro, uma administração profissional dos arquivos, com lugares adequados e pessoas preparadas, visando a conservação e a organização dos documentos. Desse modo, como temos acesso aos documentos do primeiro milênio do cristianismo, também somos responsáveis hoje pela conservação do material que permanecerá para as futuras gerações e para os próximos milênios.

Arquivos paroquiais

Nas paróquias e nas comunidades é fundamental despertar a convicção de que o cuidado e a valorização dos arquivos assumem grande importância cultural e pastoral como instrumentos eficazes de diálogo com a sociedade contemporânea. Basicamente, é necessário manter no arquivo as atas dos diversos conselhos, os documentos sobre os sacramentos, as comunicações da cúria diocesana, os documentos contábeis e os registros de propriedade, como um quadro de referência para o material documental coletado nos arquivos. Melhor seria convergir o empenho das paróquias, da diocese ou da conferência episcopal em linhas de organização comuns quanto à metodologia de coleta documental, conservação, proteção e utilização.

Algumas iniciativas ajudariam a encorajar os arquivistas eclesiásticos no seu trabalho de proteção e administração dos arquivos. Primeiramente, promover a participação nas associações nacionais competentes neste setor. Depois, as faculdades de teologia e direito canônico podem promover conferências para o aprofundamento dos problemas relativos à gestão dos arquivos eclesiásticos. No Arquivo Apostólico Vaticano, por exemplo, há uma escola de arquivística, fundada em 1884 pelo Papa Leão XIII, que contribui para o exercício da compreensão e apreciação dos documentos. Esse instituto formou gerações de pesquisadores e ainda hoje oferece diversos cursos especializados com exercícios práticos realizados sobre documentos originais:

Responsabilidade pela conservação

Portanto, os arquivos não representam uma inútil burocracia, mas um bem cultural de primordial importância, cuja peculiaridade consiste em registrar e conservar pelos documentos a trajetória percorrida ao longo dos séculos pela Igreja nas realidades que a compõem. O Código de Direito Canônico determina que cada diocese tenha os seus arquivos (cânones 482-491), também cada paróquia (cânon 535) e as fundações (cânon 1306).

Como lugares de memória, devem recolher sistematicamente todos os dados com os quais se escreve a história articulada da comunidade eclesial, para oferecer a possibilidade de uma avaliação adequada do que foi feito, dos resultados obtidos, das omissões e dos erros.

A consciência sobre a historicidade de nossa existência e de nossa fé, nos leva à convicção de que não somos os primeiros membros da Igreja e não seremos os últimos. Por isso, para com os documentos recebidos, somos responsáveis pela conservação e pela administração para com os fatos do presente, acrescente-se que somos responsáveis pela produção de documentação.

O autor Pe. Denilson Geraldo é colaborador desta Revista, padre palotino, membro do Conselho Geral da SAC e Doutor em Direito Canônico. 

Texto publicado na edição de novembro de 2021. 

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