Religião pode gerar violência?
Ao recorrer ao dicionário de significados, encontrei a palavra religião, que vem do termo “religare”, ligar de novo o que foi separado. Segundo algumas tradições religiosas, o homem estava separado de Deus devido a sua desobediência ao Criador. Mas, uma vez reconhecendo seu equívoco, precisava de algo que o ligasse novamente a Deus – que o religasse.
Toda religião propõe uma re-ligação entre o divino e o humano e, a partir disso, uma harmonia entre os seus semelhantes. Todos os anos, a Igreja Católica, por meio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), durante o período conhecido como Quaresma, em preparação para a Páscoa, aborda uma questão social para reflexão. Este ano, traz o tema: “Fraternidade e superação da violência”.
A violência é uma realidade assustadora em nossa sociedade, e precisa ser encarada com atitudes sadias de perdão e de misericórdia. A religião, por sua vez, é um elemento de coesão social que aperfeiçoa o capital social das comunidades de fé que constituem como fundamental instrumento para a promoção de uma cultura da paz e da vida.
A religião apresenta mecanismos de mobilização social no enfrentamento da violência e da criminalidade que podem ser um contraponto positivo frente à onda de morte que toma conta da sociedade. Contudo, também a religião pode gerar violência, quando acontece desrespeito à liberdade de expressão, proibições de uso de vestes em público, agressões físicas a pessoas e a monumentos, o uso indevido de símbolos de outra religião com o fim de desmerecer, condenar ou demonizar práticas religiosas.
Além disso, em muitos textos considerados sagrados pela tradição judaico-cristã e islâmica, há histórias de intolerância religiosa. Textos estes que, por vezes, são tomados como regra de fé por alguns membros fundamentalistas para justificar seus atos violentos contra seus semelhantes. Só no Brasil, entre 2011 a 2015, houve 697 denúncias de intolerância religiosa.
É uma lástima quando determinadas igrejas ou religiões usam de violência para se impor ao se apresentarem como única detentora da verdade. É possível acreditar que, um dia, as religiões seguirão de mãos dadas em prol de uma cultura de paz. Já que a contribuição da religião é religar, acredito que isso somente acontecerá quando houver uma mudança intrínseca no mais íntimo do coração humano.
Pe. Judinei Vanzeto, SAC | Jornalista
Cascavel (PR)