A imaginação é mesmo a “louca da casa”?
Há quem diga que foi Santa Teresa de Ávila, doutora da Igreja, a proferir que a imaginação é a louca da casa. O que vamos falar aqui tem a ver com a loucura ou a sanidade da imaginação?
Imaginário é a visão que uma pessoa tem de si, de Deus, dos outros e do mundo em geral. Isso inclui tanto o que alguém considera como verdadeiro, como, por exemplo, o tipo de atitude as quais as pessoas se sentem motivadas a ter, nas mais diversas circunstâncias de suas vidas. Já deu para entender que esta história de imaginário é muito importante, porque envolve as duas capacidades mais marcantes da nossa alma: a inteligência e a vontade.
Imaginário todo mundo tem, afinal as pessoas ou pensam algo sobre as várias coisas do mundo e atitudes possíveis, ou ao menos percebem que não possuem “opinião formada”. Porém nem sempre as pessoas estão conscientes de que para além de ter um imaginário é preciso educá-lo para que ele chegue a ser uma cosmovisão. E qual a diferença? Cosmovisão é uma visão ordenada e coerente com uma verdade que dá unidade a todas as outras verdades que uma pessoa acredita possuir. Cosmos significa realidade ordenada. Caos significa realidade confusa e desordenada. Educar a visão de mundo é passar do caos para a ordem.
Para nós católicos, isto é fundamental. Todo o católico deve adequar sua visão e atitude ao pensamento de Cristo e à atitude de Cristo. Educação do imaginário em termos de cristianismo católico é este adequar nosso imaginário ao sentir, pensar e agir a Pessoa de Jesus Cristo. Ou seja, Verdade-Pessoa que unifica e dá sentido à vida do cristão.
Como fazer isso?
O imaginário de um cristão católico começa a se ordenar pelo conhecimento cada vez mais profundo da pessoa de Jesus Cristo e o constante exame de consciência. Assim, poderemos verificar se tudo o que cremos como verdadeiro é coerente, faz sentido, pode ser afirmado ao mesmo tempo que a verdade que é Jesus e que Ele nos transmitiu em sua Igreja Católica, através da Bíblia e da Sagrada Tradição. Eu não posso dizer que creio em Cristo como ensina a Igreja e odiar o meu próximo, ou afirmar que é correto algo contrário ao que a Igreja ensina sobre Deus ou sobre os Dez Mandamentos.
Ao mesmo tempo em que existem experiências que podem inspirar e reforçar a verdade de fé aderida, facilitando um comportamento coerente com aquilo que se crê e sabe; há outras experiências que dificultam isso. Coisas que ouvimos e vemos, ambientes que frequentamos ou mesmo pessoas das quais procuramos a companhia podem nos ajudar a viver ou não aquilo que Cristo ensina. Isso porque a proximidade dessas coisas e pessoas vão trazendo à frente das nossas mentes e corações sentimentos que deixam rastros; mesmo que não estejamos mais naquele lugar, ou assistindo aquele filme, lendo aquela história ou ouvindo aquela música.
Santo Inácio, por exemplo, viu-se inspirado na santidade ao ler o exemplo dos santos. Santa Teresa via-se atrapalhada por sonhos românticos e por ler romances de cavalaria. Mas, este foi o mesmo tipo de livro que inspirou São Bernardo a ser um cavaleiro do espírito e ter Santa Maria como sua senhora; assim como os cavaleiros tinham suas senhoras pelas quais lutavam e exaltavam dedicando a elas seus feitos heroicos. Muitos apontam, inclusive, que é daí que vem o tão conhecido título da Mãe de Deus como Nossa Senhora.
Assim, a mesma coisa pode fazer mal ou bem ao coração de dois santos ou cristãos diferentes. Por isso, faz-se necessário realizar sempre um exame de consciência e direção espiritual a fim de que possamos perceber se as imagens que entram em nosso coração estão nos deixando mais parecidos com o Coração de Jesus, Verbo que deve ecoar em todas as imagens que formam o nosso imaginário. Tudo isso para que tenhamos a constante inspiração de vivermos o que Nossa Senhora nos ensinou: “fazei tudo o que Ele vos disser”
Rodrigo Naimayer dos Santos
O autor, colaborador desta Revista, é Seminarista da Arquidiocese de Porto Alegre, bacharel em História, Filosofia e graduando de Teologia pela PUCRS