A festa da divina misericórdia
A festa da divina misericórdia
“Desejo que a Festa da Misericórdia seja refúgio e abrigo para todas as almas, especialmente para os pecadores”, disse Jesus ao aparecer a Santa Faustina Kowalska, revelando a ela a festa que a Igreja celebra neste segundo domingo da Páscoa. A Festa foi instituída por São João Paulo II.
Um Pai que sempre nos levanta
Em 2020, no Domingo da Misericórdia, o Santo Padre faz uma homilia aos fiéis na Igreja do Santo Espí- rito em Sassia, Itália: “No domingo passado, celebramos a ressurreição do Mestre, hoje assistimos à ressurreição do discípulo. Passou uma semana; semana esta em que os discípulos, apesar de terem visto o Ressuscitado, viveram cheios de medo, mantendo “as portas fechadas” (Jo 20,26), sem conseguir sequer convencer da ressurreição o único ausente, Tomé. Que faz Jesus perante esta incredulidade medrosa? Regressa, coloca-Se na mesma posição, “no meio” dos discípulos, e repete a mesma saudação: “A paz esteja convosco!” (Jo 20,19.26). Começa de novo. A ressurreição do discípulo começa daqui, desta misericórdia fiel e paciente, da descoberta que Deus não se cansa de estender-nos a mão para nos levantar das nossas quedas. Quer que o vejamos assim: não como um patrão com quem devemos ajustar contas, mas como o nosso Pai, que sempre nos levanta. Na vida, caminhamos tateando, como uma criança que começa a andar, mas cai; dá alguns passos e cai novamente; mas sempre o pai a levanta. A mão que nos levanta sempre é a misericórdia: Deus sabe que, sem misericórdia, ficamos caídos no chão.
Podes objetar: “Mas, eu não paro mais de cair”! O Senhor sabe disso, e está sempre pronto a levantar-te de novo. Não quer ver-nos a pensar continuamente nas nossas quedas, mas que olhemos para Ele, que, nas quedas, vê filhos a levantar; nas misérias, vê filhos a amar com misericórdia.
A Santa Faustina, disse Jesus: “Eu sou o amor e a misericórdia em pessoa; não há miséria que possa superar a minha misericórdia” (Diário, 14/IX/1937).
Outra vez, quando a Santa confidenciou feliz a Jesus que Lhe oferecera toda a sua vida, tudo o que tinha, ouviu d’Ele uma resposta que a surpreendeu: “Não me ofereceste aquilo que é verdadeiramente teu”. Que teria então guardado para si a santa freira? Diz-lhe amavelmente Jesus: “Filha, dá-me a tua miséria” (Diário, 10/X/1937). Podemos, também nós, interrogar-nos: “Dei a minha miséria ao Senhor? Mostrei-Lhe as minhas quedas, para que me levante?” Ou há algo que conservo ainda dentro de mim? Um pecado, um remorso do passado, uma ferida que trago dentro, rancor contra alguém… O Senhor espera que Lhe levemos as nossas misérias, para nos fazer descobrir a sua misericórdia.
A ressurreição do discípulo
Voltemos aos discípulos… Durante a Paixão, tinham abandonado o Senhor e sentiam-se em culpa. Mas Jesus, ao encontrá-los, não lhes prega um longo sermão. A eles, que estavam feridos dentro, mostra as suas chagas. Tomé pode tocá-las, e descobre o amor: descobre quanto Jesus sofrera por ele, que
O tinha abandonado. Naquelas feridas, toca com a mão a terna proximidade de Deus. Tomé, que chegara atrasado, quando abraça a misericórdia, ultrapassa os outros discípulos: não acredita só na ressurreição, mas também no amor sem limites de Deus. E faz a profissão de fé mais simples e mais bela: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20,28). Eis a ressurreição do discípulo: realiza-se quando a sua humanidade, frágil e ferida, entra na de Jesus. Aqui dissolvem-se as dúvidas; aqui Deus torna-Se o meu Deus; aqui recomeça a aceitar-se a si mesmo e a amar a própria vida.
Misericórdia: luz que brilhará para o mundo
Precisamos do Senhor, que, mais além das nossas fragilidades, vê em nós uma beleza indelével. Com Ele, descobrimo-nos preciosos nas nossas fragilidades. Descobrimos que somos como belíssimos cristais, simultaneamente frágeis e preciosos. E se formos transparentes diante d’Ele como o cristal, a sua luz – a luz da misericórdia – brilhará em nós e, por nosso intermédio, no mundo.
Hoje, o amor desarmado e convincente de Jesus ressuscita o coração do discípulo. Também nós, como o apóstolo Tomé, acolhamos a misericórdia, que é a salvação do mundo. E usemos de misericórdia para com os mais frágeis: só assim construiremos um mundo novo.