Viver o Mistério da Santíssima Trindade
Afirma-se que o dogma da Trindade é o mais importante de nossa fé católica, pois estamos diante do maior Mistério que os olhos não viram, os ouvidos não escutaram, nem a mente consegue compreender. Nada do que podemos definir, pensar ou dizer sobre a Trindade é adequado a seu Ser mais íntimo.
A Trindade não é uma simples verdade para crer, mas a base de nossa experiência cristã. O dogma trinitário quer expressar o mistério da Vida mesma de Deus que nos é comunicada. O mais urgente neste momento para o cristianismo, não é explicar melhor o dogma da Trindade, e menos ainda, uma nova doutrina sobre Deus Trino. Seria, em definitiva, a busca de um encontro vivo com Deus. Não se trata de demonstrar a existência da luz, mas de abrir os olhos para ver.
Tudo o que “sabemos” da Trindade pode ser um estorvo para viver sua presença vivificadora em nós. Calar sobre Deus, é sempre mais exato do que falar. Dizem os orientais: “Se tua palavra não é melhor que o silêncio, cala-te”. O decisivo é viver o Mistério da Trindade a partir da adoração e da partilha fraterna. Grandes teólogos fizeram profundos estudos sobre a Trindade, tratando de pensar conceitualmente o mistério de Deus. No entanto, eles mesmos dizem que, para “saber” de Deus, o importante não é “refletir” muito, mas “saber” algo do Amor.
Deus não é um ser isolado, distante da Criação, solitário. É um Deus comunitário, família, sociedade, fraternidade. Por isso, o cume de toda a revelação bíblica é esta: “Deus é Amor”, ou seja, Deus não é uma realidade fria e impessoal, um ser triste, solitário e narcisista. E o Amor nunca é solidão, isolamento, mas comunhão, proximidade, diálogo, aliança. O Deus revelado por Jesus é Amor e aproximar-nos do Deus Amor é descobrir a Trindade. Em Deus o Amor não é uma qualidade como em nós, mas sua essência. Se Deus deixasse de amar um só instante, deixaria de ser Deus. O movimento que parte do Pai, passa pelo Filho e se consuma no Espírito é um movimento de Amor sem fim.
O dogma da Trindade, portanto, nos liberta do Deus Poder e nos lança nos braços do Deus Amor. O Deus “todo-poderoso” é o contrário do Deus Trino. Deus é Amor e só amor. Não podemos imaginá-lo como um poder impenetrável, fechado em si mesmo. Em seu ser mais íntimo, Deus é vida compartilhada, diálogo, entrega mútua, abraço, comunhão de pessoas. O amor trinitário de Deus é amor que se expande e se faz presente em todas as criaturas. Esta é a essência do Evangelho. A melhor notícia que um ser humano poderia receber é que Deus não o afasta de seu Amor. A Trindade nos ensina que só vivemos se convivemos.
Deus nos fez amor para o mútuo encontro, para a doação, para a comunhão. Fomos criados “à imagem e semelhança” do Deus Trindade, comunhão de Pessoas (Pai-Filho-Espírito Santo). Quanto mais unidos somos, por causa do amor que circula entre nós, mais nos parecemos com o Deus Trindade. Quem é incapaz de dar e receber amor, quem não sabe compartilhar nem dialogar, quem só escuta a si mesmo, quem resiste a relacionar-se com os outros, quem só busca seu próprio interesse, quem só deseja o poder, a competição e o triunfo; não pode experimentar nada da Trindade amorosa. Pensemos nisso!
Padre Lino Baggio, SAC
O autor, colaborador desta Revista,
é padre palotino em Coronel Vivida (PR)
@lino_baggio@terra.com.br