Artigos › 28/02/2022

Vida Perfeita – Como as redes sociais podem afetar a saúde mental

Vida Perfeita

Como as redes sociais podem afetar a saúde mental

 

 

 

Certamente, o leitor tem visto nas redes sociais pessoas que se mostram felizes. Pessoas que dão “receitas” em como se alimentar, ter um corpo saudável dentre outros.

 

São os influenciadores que espalham conteúdos, ditam tendências e estão sempre mostrando um estilo de vida sonhado por muitos. Será que a vida é mesmo assim? Isso não espalha uma falsidade?

A psicóloga Carla Furtado escreveu que: “A diferença entre a felicidade autêntica, legítima e real e a felicidade postada nas redes sociais é abismal. Porque a felicidade […] é uma experiência intrínseca, interna, que pode, claro, ser manifestada, mas nada a ver com a ostentação de felicidade”. Esses influenciadores propõem um tipo de felicidade embasada em algo exterior, em ter um corpo perfeito e não algo que brota de dentro da pessoa. Essa “vida perfeita” gera efeitos maléficos.

O risco em seguir tudo o que é dito nas redes sociais é produzir pessoas artificiais com uma felicidade fictícia, ou seja, que não existe. A pessoa não se sente feliz, pois está sempre descontente com seu corpo, suas coisas. Acredita que deverá buscar sempre algo mais. Porém, quando encontrou esse algo mais, percebe que não está feliz, pois existe algo que ainda não conseguiu.

 

POSITIVIDADE TÓXICA

Esses influenciadores produzem a positividade tóxica que é somente uma aparência. Isso é uma das causas do elevado número de deprimidos no mundo que se tornou um problema crônico na atualidade, levando muita gente ao suicídio.

Os influenciadores propõem uma vida perfeita, o que não existe na realidade. O problema está em quem segue esses influenciadores a viverem em outro mundo: fictício e irreal, portanto, inatingível. O que se pode fazer?

Precisamos pensar em tudo aquilo que é proposto como portador da felicidade. Muitas vezes é um engano e se não formos racionais facilmente caímos nessa armadilha. Sobre o uso racional a psiquiatra Renata Nayara Figueiredo propõe: “O uso racional é o uso equilibrado, em que a pessoa tem outras fontes de prazer, de passatempo, de trabalho, que a pessoa consiga conviver com a família, que consiga praticar uma atividade física, que não se influencie pela vida da outra pessoa. E aí tem também a questão do tempo; se consegue fazer todas as coisas e usa a rede social tem aí um equilíbrio de tempo e de atividades ao longo do dia. É o equilíbrio do tempo e das atividades fora das redes. Agora, quando a pessoa está muito restrita, que sente falta, sente abstinência de ficar sem o celular na mão, este já não é mais um uso racional”.

Não significa que nunca se busque uma vida melhor, mas o problema está em acreditar que todos os nossos desejos poderão ser satisfeitos. Ainda de acordo com a psiquiatra citada: “O problema é quando a gente projeta que a felicidade só vai vir quando a gente tiver uma casa maravilhosa, quando viver só viajando, quando tiver aquele carro, quando tiver um milhão de seguidores, por exemplo. Esse é o problema, desejar uma vida que é muito difícil ter e só depois que atingir todas essas metas que a gente vai ser feliz. Na verdade, a gente tem que ser feliz e seguir aos poucos melhorando”.

 

DESEQUILÍBRIO MENTAL

de algum desequilíbrio mental facilmente caem nessa armadilha. Pessoas com problemas de saúde mental facilmente se sentem deprimidas, com a autoestima muito baixa diante do sucesso dos outros, pois a proposta dos influenciadores é que devemos ser felizes a qualquer preço. E perceber o sucesso de alguém poderá disparar o gatilho da depressão, da ansiedade, dentre outros. Mas esses influenciadores são felizes?

Segundo a psiquiatra citada: “Os influenciadores sofrem de uma competição constante, ficam o tempo inteiro olhando quantas curtidas tiveram, quantos seguidores ganharam ou perderam. Às vezes, [o influenciador] não quer falar sobre um assunto e acaba tendo que falar porque os seguidores estão perguntando, então causa muita ansiedade, tristeza, medo de perder alguma coisa”.

Os influenciadores estão muito expostos e precisam que os outros alimentem sua autoestima. Quando são criticados facilmente entram em depressão; sofrem muito por aparentarem felicidade. Acabam sendo vítimas daquilo que eles mesmos criam: a positividade tóxica, o que gera sofrimento.

 

O autor, Pe. Sérgio Lasta, é colaborador desta revista, psicólogo, doutor em Educação e padre palotino em Santa Maria (RS)

Texto publicado na edição de Janeiro/Fevereiro de 2022

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