Sonhos e renúncias
Sonhos e renúncias
Estamos em junho, o mês dos namorados! Como é bonito ver jovens apaixonados sonhando em começar uma vida a dois! No entanto, não há vida que seja só feita de sonhos e sempre ocorrem alguns percalços ao longo do caminho. Vamos refletir sobre isso?
De que é feita a sociedade? De pessoas. E de onde vêm as pessoas? Das famílias; ao menos, em sua grande maioria.
Ao nos aprofundarmos na psicologia do desenvolvimento, observamos que a vida humana tem várias fases: primeira, segunda e terceira infância, puberdade, adolescência, adulto jovem, médio e tardio, velhice e grande velhice. Cada etapa é marcada por características próprias e que nos identificam como seres humanos. Por exemplo: como ser criança sem gostar de brincar? Como ser adolescente sem ser questionador? Como estar na meia-idade sem refletir sobre a vida que já passou?
Os namoros geralmente começam na adolescência, período de transformações corporais, hormonais e sociais. O sonho é livre e intenso, parecendo que as dificuldades serão todas facilmente superadas.
Mesmo que o namoro evolua para o noivado e casamento, mostrando que o sonho romântico deu certo, as responsabilidades da vida em família requerem algumas adaptações.
FRUSTRAÇÕES
Certa vez, em um curso universitário, fizeram uma pesquisa com os alunos para saber qual a maior qualidade que alguém deveria ter para chegar à formatura e se dar bem na vida profissional e pessoal.
Eu achava que a resposta mais frequente seria a inteligência ou a dedicação. Ledo engano! A maior qualidade apontada pelos jovens foi a tolerância à frustração! Resposta muito madura!
A resposta se justifica porque não existe curso perfeito, nem professor ou aluno perfeitos. Assim como depois de formado não existe o emprego perfeito ou a companhia perfeita. Temos que ir nos ajustando sem, no entanto, abrirmos mão dos nossos princípios.
Um problema que percebo é que existem algumas pessoas que lutam muito para conquistar algo ou alguém. Depois de conquistado, parece que perdem o interesse e começam a sentir vontade de partir para outros desafios.
Pessoas que gostam mais de conquistar do que da conquista dificilmente criarão laços afetivos duradouros. E se não criarem sólidas raízes, como produzirão frutos?
Ser adulto é também saber renunciar ao seu lado infantil, que só quer novidades, satisfação imediata e sem assumir as consequências. A maturidade é como uma casa que, embora seja muito bonita, também precisa ser alicerçada na renúncia e na perseverança. Essa renúncia não é sem sentido se ela for feita por amor. Amor a Deus, amor ao cônjuge, amor aos filhos e à sociedade.
Assim como não se constrói uma casa sem um projeto arquitetônico, não se desenvolve um amor e uma vocação sem saber onde se quer chegar. É sempre importante ter em mente: qual o verdadeiro sentido da minha vida? Em quem eu confio? Com quem eu posso realmente contar? Eu conheço minhas qualidades e meus limites?
NA VIDA ESPIRITUAL
Assim como a vida afetiva requer suas adaptações e renúncias, o mesmo vale para a vida espiritual. Quantos jovens se empolgam quando conhecem Jesus Cristo! No entanto, se não persistirem e amadurecerem a sua fé, podem ficar desanimados e achar que não vale a pena ser cristão.
Certamente a nossa vida espiritual passou por altos e baixos. Basta relembrar a crise que passou Santa Teresa de Calcutá, que ela chamou de noite escura da fé.
Mesmo nem sempre experimentando a alegria de crer, ela continuou praticando ações de fé, ou seja, obras de caridade. Muitas vezes Deus permite que tenhamos uma crise de fé justamente para nos purificarmos, para saber se nossa adesão a Ele não é uma simples euforia passageira.
É muito importante nessa reflexão relembrar o evangelho de João (12, 24-26), onde Jesus, resumidamente, diz que se o grão de trigo não morrer, ele não produzirá fruto. O mesmo vale para quem se apega demais a essa vida. O egoísmo vai causar a sua perda, mas quem perde a sua vida por amor vai ganhar a vida eterna.
Não gostaria que pensassem que uma vida virtuosa só é feita de renúncias. Não! Há muita alegria em viver no amor, na doação e na fé! O que eu quero assinalar é que por melhor que seja a vida, por mais acertada que seja a vocação, haverá momentos em que teremos que deixar o nosso apego de lado e nos empenharmos ainda mais para atravessar o tempo de crise.
Que bom que existem jovens namorados que continuam sonhando juntos! Que suas vidas sejam um caminho de santificação, o que só é possível apoiados na fé, na doação, no amor e na renúncia. Amém!
O autor, Carlos Alberto Veit, é colaborador desta revista, professor, jornalista e psicólogo clínico em Porto Alegre (RS)
Texto publicado na edição de junho de 2022