Artigos › 28/07/2023

Ser santo nos dias atuais

A evolução do pensamento cristão contemporâneo traz uma nova perspectiva na busca da santidade nos dias de hoje

 

Já pararam para refletir o que torna uma pessoa santa? Nós, católicos, crescemos ouvindo e conhecendo a história dos santos, àqueles que devotaram sua vida a seguir exemplarmente a Jesus Cristo. É sabido que a santidade antecede a vinda de nosso salvador, num ato de fé, essas personagens bíblicas acreditam na vinda do messias e contribuíram para o momento de seu advento. Por meio dos séculos, o entendimento do que é santidade evoluiu, e é sobre isso que vou tratar a seguir.

Tradicionalmente, Santidade é a qualidade ou característica de quem pode ser considerado santo, ou seja, dotado de virtudes, inocência, piedade e pureza. O conceito de santidade, está intimamente relacionado com a religiosidade e a fé. Ela exige de cada um mais que conhecimento e vontade, pois, antes de tudo, é um chamado gratuito de Deus. Através da ação do Espírito Santo, é importante se devotar vida a Cristo, que nos convoca ao amor incondicional a Deus e ao próximo, especialmente aos sofredores.

 

Alegrai-vos e Exultai

Em março de 2018, o Papa Francisco publicou a Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate (Alegrai-vos e Exultai – cf. Mt 5,12). Trata-se de um documento que trouxe uma reflexão a respeito da santidade nos tempos atuais. O intuito do Papa era promover o entendimento sobre o tema e despertar nos fiéis a necessidade de entender e viver de forma santa no contexto atual, com desafios, riscos e, é claro, ganhos espirituais. Nesse sentido, alguns pontos são universais nesta construção, e o Papa inicia sua pregação falando sobre o chamado à santidade. Ele destaca o papel daqueles que já são santos, que têm a função de serem encorajadores e inspiradores de novos santos e santas, e lembra que santos não são somente os dos altares, pois a santidade é uma graça concedida a todos por iniciativa de Deus.

No documento em questão, o Papa faz referência a dois inimigos sutis da santidade na contemporaneidade: o gnosticismo e o pelagianismo. O gnosticismo liga-se ao conhecimento como autossuficiência, isto é, a crença de que apenas pelo conhecimento o ser humano se basta e se completa espiritualmente. A pessoa se vê como ponto central da sua subjetividade e dos seus sentimentos, tornando-se autorreferencial. Ainda que viva e frequente os ambientes católicos, não prioriza os mandamentos e doutrinas que têm acesso; baseiam suas escolhas em outros parâmetros. Quanto ao pelagianismo, associa-se à ideia de atribuir à vontade do ser humano a causa de sua salvação, esquecendo que, antes de tudo, não há “eu me salvo”, mas sim “Deus me salva” – afinal, a salvação é de pura iniciativa divina.

 

Pequenas coisas

Antes de avançar nas questões mais atuais, vale lembrar que a Santidade, séculos atrás, era muito ligada à vida dos religiosos e sacerdotes, muitas vezes focada em sacrifícios físicos e emocionais. A exemplo de Santa Joana D’Arc, que dedicou sua vida a salvar o povo francês na guerra dos Cem Anos. O olhar para a santidade era focado em grandes atos de fé, geralmente fazendo contraponto à barbárie do contexto em que as pessoas estavam inseridas. À medida que o tempo foi passando, a santidade passou a ser identificada e analisada no todo da vida da pessoa. E o olhar para o cotidiano cresceu, e nas pequenas coisas que se constrói essa postura de quem imita e se transforma por meio de Jesus Cristo. A exemplo disso temos o Beato Carlos Acutis, que teve sua santidade reconhecida pela sua obra de divulgar os ensinamentos de Cristo de forma digital.

Os adventos tecnológicos devem ser utilizados para que Jesus Cristo seja conhecido e amado e não ao contrário. É fato que os meios digitais acabam sendo fonte de dispersão entre a juventude, e nesse ponto ter uma família estruturada e que dissemine a vida espiritual são fundamentais. Nos espaços dedicados à promoção do catolicismo (igrejas, comunidades, escolas, obras sociais etc) se faz essencial que se desenvolva uma consciência da importância da santidade na vida de cada um. E tudo que esteja a serviço para edificar a santidade na vida das pessoas é válido. E já dizia uma música: amar como Jesus amou, sonhar como Jesus sonhou, pensar como Jesus pensou, viver como Jesus viveu!

Essa é a perspectiva da santidade atual, na simplicidade viver os ensinamentos de Cristo, ser exemplo para quem nos rodeia e em cada ação fazer o bem.

Cada vez mais precisamos nos ater à essência do que Jesus ensina, “amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. Somente assim podereis ser reconhecidos como meus discípulos” (Jo 13,34-35). Independente da época, promover a paz e os ensinamentos cristãos são a base para alcançar o Reino de Deus.

 

Henrique Alonso

O autor, colaborador desta Revista, é fotógrafo, relações-públicas
e atua com comunicação organizacional
E-mail: jh.alonso@hotmail.com

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