Sentido da Vida: O bem
Sentido da Vida: O bem
Ter um motivo para se levantar pela manhã pode, para muitos, ser algo que não se questione, simplesmente porque os deveres e os compromissos impõem uma agenda. Durante uma boa parcela da vida é assim. Mas, isso muda quando a pessoa enluta.
Toda perda marca uma ruptura no cotidiano, seja pela ausência do bem ou da pessoa perdida ou, especialmente, se com esta perda os projetos individuais perderam a razão de existir. Com frequência ouvimos enlutados manifestarem essa perda de interesse por planos já feitos e mesmo pelas pequenas iniciativas diárias. Isso acontece porque com a perda todas as realidades são postas em nova perspectiva e a ordem do que é essencial, importante e acidental ficam confusas. A reação mais comum é proteger suas energias não desperdiçando nada além de sobreviver enquanto processa a perda.
Esse comportamento marca o primeiro período do luto, mas com o passar do tempo ele deve ser superado. Aos poucos se faz necessário exercitar novas situações e perceber quais delas lhe inspiram bem-estar e vontade de investir seu esforço nela. Atividades simples podem devolver o ânimo ao enlutado, cada um, com sua forma de ser, há de encontrar algo que perceba que lhe conforta. Na grande maioria das vezes, esse algo é para o outro e, não raramente, voluntário.
Um propósito na vida é maior que a própria vida porque o grande sentido é universal e atemporal, que é o bem. Quando, mesmo que com sofrimento, o enlutado consegue perceber onde e como pode fazer o bem ele encontra um caminho de superação. Mas, o sentido da vida não é uma porta somente, o sentido é o caminho e são passos, portanto não é algo a ser buscado como remédio para seu momento de sofrimento, mas como propósito de sua vivência apesar desse momento de sofrimento. O luto passa, o sentido da vida não.
Quem descobriu o sentido da vida não deixou de ter problemas, perdas e lutos, mas, mesmo em situações de extrema angústia, sabe que a vida nos chama a uma missão, a ser o bem no mundo.
A autora, Sonia Sirtoli Färber, é colaboradora desta revista, Tanatóloga e doutora em Teologia
Texto publicado na edição de junho de 2022