Artigos › 29/12/2020

10 mitos e verdades sobre Otorrinolaringologia

 

  1. Ronco é sinal de sono profundo – MITO!

O ronco é um ruído causado pela obstrução das vias aéreas superiores. Pode ser um sinal de doença quando associado à apneia do sono. Pessoas que roncam e/ou têm apneia geralmente não atingem a fase REM do sono, que é o sono profundo. Logo, essas pessoas podem até dormir uma quantidade boa de horas de sono e não ter um sono reparador.

 

  1. Não se deve usar cotonetes nos ouvidos – VERDADE! 

Os ouvidos produzem cera em quantidades variáveis para cada indivíduo. Os pelos do ouvido fazem uma “autolimpeza” de forma que não precisamos limpar dentro do ouvido. Quando o organismo produz muita cera podem surgir sintomas como dor, abafamento, zumbido e sensação de estar com água nos ouvidos. Ao introduzir uma haste flexível (cotonete) empurramos a cera para dentro, formando rolhas de cera que dificultam a remoção. Além disso, coçar os ouvidos com cotonetes pode criar micro lacerações no canal formando portas de entrada para bactérias e predispondo o surgimento de otites. Quando o ouvido produz muita cera, o ideal é procurar um otorrinolaringologista para fazer a adequada remoção no consultório.

  1. Quando estou com dor de garganta não posso tomar bebidas geladas – MITO!

Não existe nenhuma comprovação científica que bebidas geladas ou sorvetes agravem algum processo inflamatório ou infecção bacteriana.

 

  1. Beber água ajuda a ter a voz boa – VERDADE!

Tomar água hidrata a laringe protegendo a voz e evitando a rouquidão. O ideal é tomar um gole de água em temperatura ambiente para cada 15 minutos de uso da voz. Em contrapartida, ingestão de bebidas alcoólicas, chocolate, cafeína (café preto, chimarrão), hábitos como coçar a garganta ou pigarrear, e fumo são prejudiciais para a voz.

 

  1. Zumbido não tem cura – MITO!

O zumbido não é uma doença e sim um sintoma de que algo não está bem em nosso organismo. Possui diversas causas, muitas delas são tratáveis e outras não. Dentre as causas de zumbido podemos citar perdas auditivas, alterações metabólicas (como aumento de colesterol, triglicerídeos e glicose), desordens emocionais e bruxismo, entre outras. Sempre deve ser investigada a causa pois pode ser sintoma de doenças mais graves, como neurinoma do acústico (tumor nervo auditivo), que é bem raro. Mesmo sem poder prometer a cura, sempre há o que pode ser feito para controlar, diminuir ou mesmo se adaptar ao zumbido.

 

  1. Apneia do sono pode levar à morte – VERDADE!

A apneia do sono aumenta muito a probabilidade do desenvolvimento de doenças potencialmente graves, como hipertensão arterial sistêmica, diabetes, AVCs (derrames) e arritmias cardíacas. Por ser uma doença silenciosa e, muitas vezes, o paciente demora a procurar um médico e tem seu diagnóstico retardado. A hipersonolência diurna é o principal sintoma clínico da doença, mas na maioria das vezes os pacientes chegam no consultório pela queixa do parceiro(a) do ronco. O diagnóstico se dá através de uma polissonografia, que é um exame que monitora o sono durante a noite para ver o que exatamente acontece.

 

  1. Uso de fones de ouvido podem levar à perda de audição – MITO!

O uso de fones de ouvido, sejam eles headphones (ficam para fora da orelha) ou earphones (ficam para dentro da orelha) não induzem à perda de audição. O seu uso com volume alto por tempo prolongado pode causar alterações auditivas. Fones pequenos também podem empurrar a cera no conduto auditivo causando abafamento nos ouvidos.

 

  1. Desvio de septo pode causar hemorragias nasais – VERDADE!

A mucosa do septo nasal é muito vascularizada. Por conta do desvio fica uma área do septo mais exposta e, em função das mudanças de fluxo de ar, essa mucosa do septo fica mais ressecada causando rompimento dos vasinhos e, por consequência, desencadeando sangramento nasal. Pode haver um sangramento de pequeno a médio porte, mas geralmente esse tipo de sangramento não é grave. Não existe nenhuma relação com derrames ou rompimento de algum vaso cerebral.

 

  1. Retirar as amigdalas prejudica a imunidade – MITO! 

As amígdalas são órgãos linfoides que produzem imunoglobulinas até os sete anos de idade. Após essa idade, não tem mais nenhuma função específica no corpo. Mesmo em crianças menores que tem indicação de amigdalectomia, seja por infecções de repetição, seja por serem obstrutivas e dificultarem a respiração, a retirada das amigdalas não traz consequências maléficas ao paciente, pois existem vários outros órgãos linfoides que compensam a produção das imunoglobulinas das amígdalas. Muitas vezes até melhora a imunidade após a cirurgia por debelar processos infecciosos. Logo, a pessoa que não tem amígdalas não tem imunidade mais baixa e a infecção não vai para outra parte do corpo por não existir mais amígdalas.

 

  1. Se estou com secreção nasal amarelada preciso tomar antibióticos – MITO! 

Nem sempre a secreção nasal amarelada é sinônimo de bactéria. Muitas vezes pode ser apenas contaminação pela secreção ficar parada dentro do nariz. Resfriados e rinite alérgica podem provocar secreção nasal abundante e se apresentar amarelada principalmente pela manhã. A principal causa de sinusite aguda é viral e não requer tratamento com antibióticos. Uso de descongestionantes e lavagens nasais, com soro fisiológico a 0,9%, podem resolver na maioria dos casos.

 

 

A autora, Renata Ravanello, é  colaboradora desta Revista, médica (CRM/RS 23316) otorrinolaringologista em Porto Alegre (RS), com pós-graduação em medicina do sono pela USP e especialista em cirurgia nasal. 

Texto publicado na edição de janeiro/fevereiro de 2021. 

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