Artigos › 16/03/2024

Os heróis invisíveis

Descobrimos o caminho para chegar até a lua… Só não encontramos ainda o caminho para chegar à lixeira mais próxima.

Sinceramente eu não sei se neste nosso vasto universo existe alguma outra civilização inteligente, mas com certeza, dificilmente, o ser humano vai perder o posto de campeão na produção de lixo.

Pior do que produzir é não saber o que fazer com o lixo, criando uma reação em cadeia que nos assola no último século. Para se ter uma ideia, nós, os brasileiros, produzimos cerca de um quilo de lixo por dia, em média, e somente 4% desses resíduos são recuperados e reciclados. Os dados são do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2022, da Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), e da International Solid Waste Association (ISWA), respectivamente. Esta conta desigual entre o que se gera em resíduos e o que se recicla traz prejuízos ambientais e sociais para todos. Esta conta desigual entre o que se gera em resíduos e o que se recicla traz prejuízos ambientais e sociais para todos.

O mais estranho disso tudo, é que todos nós sabemos que a solução seria bem simples e com isso amenizaria ou quase resolveria o problema do lixo  em nosso planeta. Basicamente, se cada um de nós fizesse a sua parte, separando o lixo orgânico do reciclável, estaríamos contribuindo e muito com a preservação do meio ambiente. No entanto, a realidade é a da falta de conscientização da população em geral, principalmente nas grandes cidades, tornando tudo cada vez mais preocupante.

 

Heróis do dia a dia

Aqui entra em cena uma classe de trabalhadores que nos ajudam diariamente a reduzir os impactos do lixo em nossas vidas. Os “catadores” ou melhor, os recicladores. Imagine sua cidade hoje sem o trabalho de “formiguinha” dessa classe, os quais infelizmente passam despercebidos pela maioria da população.

Na cidade onde moro, me chamou a atenção um desses trabalhadores passando com sua carrocinha, onde literalmente havia mais de 300 garrafas pets. Resolvi falar com ele para entender onde ele tinha conseguido tantos frascos. Para meu espanto a resposta dele foi curta e grossa: “apenas do descarte dos moradores”. Embora fosse o dia que passava o caminhão de lixo orgânico na cidade. Ou seja, se não fosse a ação de homem, todo esse plástico iria simplesmente para o lixão da cidade, misturando-se aos demais lixos orgânicos de todos os tipos. Um absurdo!

 

Principais desafios enfrentados por esses profissionais no Brasil

Os catadores de materiais recicláveis no Brasil enfrentam muitos desafios em seu trabalho. Em geral, esses trabalhadores são pessoas de baixa renda, muitas vezes sem qualificação ou acesso a outros tipos de emprego.

Geralmente coletam materiais recicláveis de lixões, aterros sanitários, ruas e residências, para vender o que recolhem a empresas de reciclagem. E para isso enfrentam os seguintes desafios:

 

  • A falta de reconhecimento e valorização de seu trabalho.
  • Eles são estigmatizados e marginalizados pela sociedade, vistos como pessoas que sobrevivem de lixo, quando na verdade estão realizando uma atividade importante para o meio ambiente e a economia.
  • Falta de proteção e segurança no trabalho, com risco de acidentes, doenças e
  • exposição a produtos químicos e substâncias tóxicas.
  • Dificuldades em relação à organização e ao acesso a recursos e infraestrutura adequados. Precisam, ainda, lidar com a falta de espaços de trabalho, equipamentos e veículos para transportar os materiais recicláveis, o que torna o trabalho mais difícil e menos eficiente.
  • Falta de incentivos e políticas públicas voltadas para a coleta seletiva e a reciclagem. Muitas cidades no Brasil não têm programas de coleta seletiva e os materiais recicláveis acabam indo para aterros sanitários ou lixões, prejudicando o meio ambiente e reduzindo as oportunidades de trabalho para os catadores.

 

Segundo o MNCR (Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis) há mais de um milhão de catadores em 400 cooperativas no Brasil. E que NÃO trabalham com LIXO, mas com material RECICLÁVEL. É totalmente diferente. Os envolvidos nessa atividade econômica são profissionais da reciclagem e não ‘catadores de lixo’ como eram chamados antigamente. Muita gente ainda tem uma visão superficial, equivocada sobre tais profissionais.

Educar cada vez mais a população para o descarte correto de seu lixo é necessidade urgente em todas as nossas cidades. No entanto, precisamos também olhar para essa classe de “heróis” que faça chuva ou faça sol, estão diariamente ajudando a limpar nossas cidades e o planeta, reciclando materiais como o plástico.

Meus parabéns a todos os recicladores e que o poder público consiga o mais rápido possível, ajudar essa classe tão importante para todos!

 

 

Juarez Rodolpho dos Santos

O autor, colaborador desta Revista, é designer gráfico em Porto Alegre (RS)

juarezrodolpho@gmail.com

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