Ano da Família – Amoris Laetitia
Durante a oração do Angelus, em 27 de dezembro de 2020, festa litúrgica da Sagrada Família, o Papa Francisco anunciou a convocação de um “Ano especial dedicado à Família Amoris laetitia”.
Inaugurado em 19 de março de 2021, dia de São José e quinto aniversário da publicação da Exortação Apostólica Amoris laetitia, o Ano da Família Amoris Laetitia será concluído em junho de 2022.
A intenção do Papa ao anunciar um ano dedicado à família é continuar o percurso sinodal que levou à publicação da Exortação Apostólica em 2016. Com efeito, Amoris laetitia é fruto de dois sínodos (2014 e 2015) e foi inspirada na história do ensinamento da Igreja sobre a família, mas com uma nova ênfase em seus argumentos. O Papa Francisco cita nesta exortação os Papas Paulo VI, João Paulo II, Bento XVI, os sínodos já realizados e alguns documentos das conferências episcopais, ou seja, Amoris laetitia é, verdadeiramente, eclesial e apresenta uma novidade no incentivo ao acompanhamento e à proximidade com as famílias, não importando qual possa ser a situação em que se encontrem.
Na realidade, o tema família deveria ser estudado pelas universidades, pelas escolas públicas, deveria ser apresentado pelos governos porque o tema diz respeito a todos os seres humanos e não semente aos católicos. Nesse sentido, quando os cônjuges não cristãos recebem o batismo, não é necessário renovar a promessa nupcial emitida anteriormente de modo natural (Amoris laetitia, 75).
A razão teológica dessa afirmação do Papa Francisco é que a ordem natural foi assumida pela redenção de Jesus Cristo. Em outras palavras, Jesus Cristo iluminou e realizou a ordem da criação.
Todavia, para os cristãos, o sacramento do matrimônio não é uma questão de convenção social, um rito vazio ou mero sinal externo de compromisso.
É um dom para a santificação e a salvação dos esposos e o sinal sacramental da relação de Cristo com a Igreja (Ef 5). Os esposos são, portanto, para a Igreja, a lembrança permanente daquilo que aconteceu na cruz, ou seja, a total entrega de si que os torna uma só carne. Por isso, entre os batizados, não somente entre os católicos, o matrimônio é necessariamente sacramento, respondendo ao chamado de Deus à santidade.
Desse modo, a Exortação Apostólica Amoris laetitia pretende chegar ao cotidiano de todas as famílias, partilhando os seus problemas. Daí a razão de um documento tão longo, pois os desafios familiares são tantos que o intento de aproximação é desafiador. A concretude dos argumentos levantados pelo Papa, um pastor que ama suas ovelhas, proporciona uma agradável leitura do documento por ser prática e envolvente.
Vemos que o discernimento é uma palavra-chave para a compreensão da Exortação Apostólica Amoris leatitia. Discernir é um esforço constante, à luz da Palavra de Deus e dóceis ao Espírito Santo, sem receitas prontas, mas possibilitando o crescimento espiritual e humano das famílias. O discernimento requer humildade e uma busca sincera da vontade de Deus, conduzindo à integração dos valores da cultura contemporânea.
A aproximação da Igreja às situações familiares mais exigentes é uma ajuda às próprias famílias para superarem as experiências traumáticas e para se reintegrarem pelo diálogo e pelo perdão. De modo inovador, o Papa Francisco insere o hino da caridade de São Paulo (1Cor 13) na teologia do matrimônio ao tratar do cotidiano das famílias.
O Papa esclarece o significado das expressões desse hino, aplicando-as na vivência conjugal, na educação dos filhos, no contato com outras famílias etc.
O “Ano da Família Amoris laetitita” será um ano de estudos e reflexões para aprofundar os conteúdos do documento. Os estudos serão colocados à disposição das comunidades eclesiais e das famílias sob a coordenação do Pontifício Conselho para os Leigos, a Família e a Vida, conforme o link ao lado.
De fato, o Papa Francisco mostrou-nos com a Exortação Apostólica Amoris Laetitia a grandeza e a beleza da vida em família, indicando para a Igreja caminhos de uma verdadeira conversão pastoral que implica uma saída de si em direção às famílias sofridas que esperam da comunidade eclesial uma solicitude pastoral com ternura e misericórdia.
O autor, Pe. Denilson Geraldo, é colaborador desta Revista, padre palotino e membro do Conselho Geral da SAC e Doutor em Direito Canônico.
Texto publicado na edição de outubro.