Notícias › 07/07/2019

Minimalismo como resgate do essencial

Há muito tempo trabalho com pessoas com Síndrome de Diógenes e Síndrome de Miséria Senil que, comumente, são chamados de acumuladores compulsivos. Entretanto, o que tem se tornado cada vez mais visível é uma outra forma de ser e de gerenciar a vida, na qual a maioria das pessoas se encaixa, em algum aspecto fazemos parte ou tendemos a fazer se não formos criteriosos.

O que identifica esta categoria é a exuberância, a prodigalidade de objetos e a quantidade de itens diversos. É a categoria do consumidor. Enquanto o acumulador tende a multiplicar o número de objetos iguais, o consumidor não resiste em adquirir coisas diferentes, não só diferente do que já possui, mas, especialmente, diferente do que as outras pessoas possuem.

 

A aquisição que começa despretensiosa passa a ser um conforto emocional quando sua exposição gera likes, aprovação e até mesmo cobiça. Deste ponto em diante, o consumidor se torna expositor e esta exposição requer manutenção, itens novos e novidades. Se você que está lendo pensa que me refiro a ambientes de showroom de pessoas muito abastadas, engana-se. Esta realidade está cada vez mais popularizada. As redes sociais são a vitrine, mas não a causa. Uma motivação para desprender a atenção da vida e focar em objetos está na busca por alento, por algo que preencha alguma lacuna da sua existência. Outra é a tentativa de fugir do anonimato. Ter identidade e ser identificado como alguém a ser seguido e nomeado em conversas é algo tentador, mas que demanda tempo, esforço e renúncia se o conteúdo for interno, daí que os objetos podem fazer as vezes de elemento diferencial.

 

Essa realidade não é nova, nem é decorrência do uso da Internet, longe disso. Por volta de 950 anos antes de Cristo, Salomão, o rei de Israel, viveu uma crise existencial e religiosa e, no seu esvaziamento espiritual, tentou preencher com objetos, coisas e até animais exóticos que atraíssem a atenção das pessoas. Os capítulos 10 e 11 de Reis apresentam as extravagâncias e as sombras da vida do monarca em busca de likes. A arqueologia histórico-bíblica apresenta, também, que no século VIII a.C. a região norte de Israel teve grande sucesso econômico, e muitas senhoras, não tendo como usar e mostrar todos os objetos raros e de grande beleza que possuíam, adotaram uma estratégia no mínimo original, vestiam e enfeitavam as suas escravas com itens belíssimos e passeavam com elas pelas ruas das cidades para exibir os seus objetos. O que diferenciava a senhora da escrava eram os calçados. Naquela época e sociedade, o escravo andava descalço.

 

A história tem inúmeros relatos do consumismo extravagante, e a alternativa que se apresenta como enfrentamento do excesso sempre foi a sobriedade. Atualmente, mais que uma tendência ou modismo, o minimalismo propõe possuir coisas com as quais a pessoa se identifique, objetos que tenham significado e sejam utilizados, não armazenados. A proposta é simples, basta olhar as coisas que temos e o que nos rodeia e perceber se usamos e se nos fazem sorrir ao olharmos para elas, mesmo que ninguém veja ou curta.

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