Artigos › 23/03/2021

Medo, fobia, síndrome do pânico – Manifestações da pandemia

Nos dias atuais, por conta das consequências da pandemia que tem atingido a todos, houve um aumento na busca por psicoterapia relacionada a sintomas como o medo, a depressão e a ansiedade. Muitos desses sintomas são encontrados em vários quadros psicopatológicos, como a fobia e os transtornos do pânico, mas nem sempre os diagnósticos são iguais.

Geralmente, as pessoas, principalmente as adultas jovens e as que se encontram na maturidade, alegam que seus sofrimentos iniciaram com a Pandemia do Coronavírus. Entretanto, os profissionais da saúde sabem que, subjacente aos sintomas, devem levar em conta a estrutura psicológica de cada indivíduo, previamente formada pela história vivida, que determinará a maneira de como cada um se comportará diante dos fatos.

 

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Alguns indivíduos, geralmente os idosos, vêm reagindo aos acontecimentos através do medo e sentido esse momento como uma ameaça à integridade psicológica e à vida. Sentem que podem amenizar esse sentimento com atitudes positivas, revigorando relações de afetos e passando a limpo o que a vida atribulada não permitia. Acreditam que tudo voltará ao normal quando o fato causador cessar. Desta forma, o medo atua como um muro que impede a adoção de ações em prejuízo próprio e atua, em certa medida, no equilíbrio e tomada de decisões, protegendo-os. Mesmo entendendo que é importante acatar as restrições e recomendações feitas pelos órgãos de saúde, para evitar a contaminação e propagação da doença aos demais, sentem-se mais temerosos que o normal e frágeis emocionalmente.

Entretanto, existem pessoas que apresentam um quadro mais agudo, como a fobia, com manifestações de pavor irracional diante da situação, agravando a qualidade de vida, devido ao exagero de cuidados e precauções e até mesmo, daquilo que não representa um risco real é fantasiosamente considerado uma ameaça de destruição e morte. Esses indivíduos procuram se defender da ansiedade associando-a a um objeto externo, o que caracteriza a sua fobia ou medo.

Geralmente se isolam totalmente, não recebem e não se comunicam com familiares e amigos, mesmo com proteção. Banham-se toda vez que tocarem em algo e sentem que tudo pode estar contaminado.  O medo aumenta a cada notícia de morte divulgada pelos meios de comunicação. Muitos outros sintomas, como a depressão e a angústia, também estão presentes e o temor para buscar ajuda existe pelo medo de se contaminarem com o profissional.

Os transtornos de pânico, por sua vez, são um outro tipo de manifestação muito presentes em nossa atualidade, devido às pessoas não saberem como se prevenir e se defender do agente ameaçador. As causas alegadas referem-se à pandemia e suas consequências.

 

Esse transtorno foi classificado por Freud, no final do século XIX, como neurose de angústia e caracterizado por ataques de ansiedade, acompanhado, muitas vezes, de agorafobia ou depressão periódica.

A neurose de angústia foi subdividida em neurastenia e hipocondria e era denominada de neurose atual, em contraposição às psiconeuroses de defesa como a histeria, a neurose obsessiva e a paranoia, muito presentes naquela época.

O que se observa hoje é que os sintomas do transtorno ou síndrome do pânico têm as mesmas manifestações e etiologia da neurose de angústia, como o pânico, o sentimento de desamparo diante de uma situação ameaçadora, a insegurança por não conseguir prever uma crise e a incapacidade de se defender, quando ela acontece em qualquer momento e em qualquer lugar.

A ausência de um objeto definido, contra o qual o sujeito possa se defender, pode gerar, muitas vezes, uma sensação de morte súbita ou de iminente loucura. É somente na fase de ansiedade antecipatória e de esquiva fóbica que o indivíduo pode eleger uma causa real para sua ansiedade. Contudo, qualquer representação é incapaz de conter a possibilidade de um novo ataque de pânico, pois nessa doença os mecanismos de defesa psicológicos são inconsistentes, quando comparados à fobia. O desamparo sentido aponta para uma causa de origem inconsciente, relacionada a algum evento traumático da infância, ou no passado recente, e até mesmo por traumas atuais.

As pessoas que sofrem desse transtorno têm a qualidade de vida bastante prejudicada e, diante da pandemia e suas limitações, regridem para sintomas mais graves, como descontrole, insônia, inapetência, tontura, ansiedade, taquicardia, sensação de medo de morrer, crises de angústia e outros mais…

Um profissional atento deve distinguir as reações que são normais, como o medo, decorrente das restrições impostas pela pandemia e que tolhem a liberdade pelos cuidados e afastamento das pessoas, daqueles comportamentos psicopatológicos, isto é, que adoecem a pessoa.

Perceber que a causa dos sofrimentos não está somente nos acontecimentos atuais, mas na história de cada um e suas condições emocionais preexistentes, ajudará nos tratamentos desses pacientes.

A recomendação que se pode fazer é que, diante desses sintomas, as pessoas devem procurar por ajuda psicológica porque existem tratamentos que auxiliam a transformar a vida e oportunizam as pessoas serem mais felizes e livres.

Por fim, se por um lado a Pandemia trouxe grandes sofrimentos, por outro ajudou muitas pessoas a buscarem a resolução de antigos sofrimentos e limitações, muitas vezes, acobertados por fugas nas compras, na comida e bebida, no trabalho, nas academias e na resignação de que teriam que viver assim mesmo.

Como refere Ralph Waldo Emerson “O medo sempre provém da ignorância e do desconhecido”.

A autora, Helena Balbinotti é colaboradora desta Revista, psicóloga clínica e psicogenrontóloga em Porto Alegre (RS). 

Texto publicado na edição de janeiro/fevereiro de 2021. 

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