Notícias › 01/07/2019

Juventude e (de)pressão caminho da dor

EM UM MUNDO EM QUE AS FAMÍLIAS CORREM, OS JOVENS BUSCAM SE AFIRMAR E O MERCADO DE TRABALHO COBRA RESULTADOS, É NECESSÁRIO USAR DA EMPATIA E DEIXAR DE LADO OS PRÉ-JULGAMENTOS. A JUVENTUDE NÃO É O AMANHÃ DA SOCIEDADE E NEM NA IGREJA. HOJE, A FORÇA DE TRABALHO É COMPOSTA EM GRANDE ESCALA POR JOVENS QUE ADENTRAM AO MERCADO, EM SUA MAIORIA, COM POUCA EXPERIÊNCIA E COM BAIXOS SALÁRIOS. VISTO COMO EMPECILHO POR PARTE DA SOCIEDADE QUE LUTA POR IDEAIS COMO JUSTIÇA, ÉTICA E HONESTIDADE, O PÚBLICO JUVENIL CRESCE À MARGEM DO CAMINHO.

 

Por que quis fazer essa introdução? Você, querido leitor, querida leitora, pode achar que estou sendo pessimista. Entretanto, vejo esse cenário no dia a dia e vivo isso no meu cotidiano. Escola, aula de inglês, catequese, vôlei, ballet, são algumas das dezenas de atividades que as crianças fazem desde os seus sete ou oito anos. Dada a falta de tempo das famílias e a busca incessante por recursos para manter a casa, os pequenos crescem sem descanso e, ao se tornarem jovens, replicam isso em suas relações e no mercado de trabalho.

 

Quando uma criança ou jovem reclama de cansaço, geralmente aparece alguém que menospreza essa expressão: “Tu, um guri, está cansado? Quero ver quando chegar à minha idade”. Eu, por exemplo, ouço isso muitas vezes. No entanto, essa reação negativa é o contrário do que o outro quer. Ao invés de ser acolhido, acalmado, abraçado, ele é julgado.

 

São muitos os jovens que fazem terapia com profissionais da psicologia ou da psiquiatria, porque se sentem sobrecarregados pelas inúmeras atividades que desenvolvem. Um fator que influencia muito essa situação é a pressão: há urgência de bater metas, de entregar materiais, de demonstrar resultados. Essa mesma pressão, contudo, traz muitos sofrimentos e cobranças ao mesmo tempo.

 

Essa e outras situações podem desencadear algo que é muito popular atualmente: a depressão. Me refiro ao ‘‘popular’’ não no sentido de menosprezo, mas de reconhecimento que a corrida desenfreada, a falta de bons ambientes que permitam ao jovem “ser o que ele é”, fazem com que ele sofra da falta de sentido da vida. E aqui vai um puxão de orelha para muitos de nós, católicos, que achamos que depressão é falta mde Deus. Não é falta de Deus, porque é Ele que faz com que a esperança não se acabe. Antes de tudo, é falta de humanidade e excesso de julgamento.

 

No documento final do Sínodo dos Bispos sobre a juventude, a fé e o discernimento vocacional, realizado em 2018, a Igreja fala sobre a necessidade de superar a cultura do descarte. E aqui está uma importante chave de leitura para nós: “os jovens que vivem estas diversificadas condições de mal-estar e suas famílias contam com a ajuda das comunidades cristãs, nem sempre estas estão adequadamente equipadas para os acolher”.

 

Quando uma criança da catequese conta à catequista que já tentou o suicídio, qual a reação? Quando um jovem confessa ao padre que está pensando em tirar sua própria vida, qual é o apoio que ele recebe? Precisamos sair da penitência simples da oração da Ave-Maria ou do Pai-Nosso para uma outra penitência: a empatia. A criança e o jovem precisam de empatia, isto é, alguém que seja solidário às suas dores. Que não as tome para si, mas que sejam mais ouvintes do que emissores de pareceres, mais amorosos do que legalistas e mais humanos do que simples profissionais.

 

Se um jovem chegar perto de você e disser que está cansado, que está com dificuldades, que está se sentindo pressionado a dar resultados a qualquer custo, exerça a empatia. Se coloque à disposição para ouvir, mas se livre de quaisquer pré-julgamentos. Você poderá ser sinal de Deus na vida desse jovem, fazendo com que a esperança dele permaneça viva.

 

Em sua Exortação Apostólica Pós-Sinodal intitulada Cristo Vive, o papa Francisco deixa algumas dicas para os jovens que estão neste processo doloroso das terapias e também da depressão. Uma delas está no número 109: “Se és jovem em idade, mas te sentes frágil, cansado ou desiludido, pede a Jesus que te renove. Com Ele, não se extingue a esperança. E o mesmo podes fazer, se te sentires imerso nos vícios, em maus hábitos, no egoísmo ou na comodidade morbosa. Cheio de vida, Jesus quer ajudar-te para que valha a pena ser jovem. Assim, não privarás o mundo daquela contribuição que só tu – único e irrepetível como és – lhe pode dar”.

 

Jovem, você se sente pressionado, cansado? Procure pessoas que sejam especiais para você e que estejam dispostas a lhe ouvir e acolher. Procure a experiência dos profissionais da saúde, porque o turbilhão poderá tentar fazer você desistir de tudo. Padres, catequistas, lideranças da Igreja: ouçam a juventude com carinho e sem pré-julgamentos. Comunidades: disponibilizem espaços para que o jovem goste de estar na Igreja e se sinta parte dela.

 

Famílias: cuidem bem das crianças, adolescentes e jovens. Enchê-los de atividades durante o dia não é o único caminho para que se desenvolvam com saúde e sejam bons cidadãos. A atenção, o diálogo e o abraço podem fazer mais efeito diante de um mundo e um mercado de trabalho que querem lucros e resultados cada vez maiores, sob o risco da perda do emprego.

 

“O mal não tem a última palavra. Também na tua vida, o mal não terá a última palavra, porque o teu Amigo, que te ama, quer triunfar em ti. O teu Salvador vive” (Cristo Vive, n. 126).

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