Artigos › 09/12/2023

EM BUSCA DE SABEDORIA

Sempre que me perguntam quais as qualidades que eu gostaria de ter eu respondo que, entre elas, eu escolheria a criatividade e a sabedoria. Todos nós temos um pouco delas, mas sempre é bom desenvolvê-las mais.

 

 

Primeiramente é preciso distinguir conhecimento de sabedoria. Conhecimento é o conjunto de informações que adquirimos por meio dos estudos, da experiência de vida e das relações humanas. Pode haver conhecimento para o bem ou para o mal.

Já a sabedoria é o uso de todo nosso potencial, inclusive do conhecimento, para o bem. São Tomás de Aquino distinguia três tipos de sabedoria: a filosófica, que é adquirida, a teológica, que também é adquirida, e a sabedoria como dom, que vem do Alto. Certamente, é essa terceira sabedoria a mais rara e importante de todas.

São Tiago, na sua epístola, já dizia: “Se alguém de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus (…) e ser-lhe-á dada, mas peça-a com fé” (Tg 1,5-6). Na sequência ele explicita: “A sabedoria que vem de cima é primeiramente pura, depois pacífica, condescendente, conciliadora, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade nem fingimento” (Tg 3,17).

Haveria como acelerar o processo de busca de sabedoria? Eu acredito que sim; por exemplo: estudando os melhores escritos a respeito, orando, meditando, buscando se aconselhar com os que já consideramos sábios e lendo a Bíblia, onde encontramos os chamados livros sapienciais.

A palavra sapiencial vem do latim (sapientia) e justamente quer dizer sabedoria. Ao pesquisarmos os livros sapienciais vamos perceber que na Bíblia o sábio não é necessariamente quem estudou muito e tem muitos títulos acadêmicos, e sim quem sabe encontrar e vivenciar a vontade de Deus em sua vida.

O sábio é sempre uma pessoa humilde, com muita fé, que não é individualista, que é prudente no agir e falar e que procura se aconselhar com os que têm mais experiência na vida.

Os livros sapienciais ocupam o terceiro bloco da Bíblia católica, vindo depois do Pentateuco e dos livros históricos. Eles são em número de sete: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria e Eclesiástico.

 

OS LIVROS

O livro de Jó é uma das obras mais famosas da literatura mundial. Sobre ela eu escrevi um artigo para esta revista em maio de 2022.

O que mais nos surpreende nesse livro é como um homem que era casado, rico, tinha dez filhos e perde tudo, consegue manter inquebrantável a sua fé. Ele adorava Deus na alegria e na tristeza, sendo uma das suas frases mais famosas: “Nu saí do ventre da minha mãe, nu voltarei. O Senhor deu, o Senhor tirou: bendito seja o nome do Senhor” (Jó 1,21).

O próprio São Tiago se referiu a esse homem de fé gigantesca. “Vós sabeis que felicitamos os que suportam os sofrimentos de Jó. Vós conheceis o fim em que o Senhor o colocou, porque o Senhor é misericordioso e compassivo” (Tg 5,11).

Lendo esse livro, fica uma reflexão: será que continuaríamos fiéis a Deus se passássemos por tantas dificuldades?

Os Salmos são hinos e louvores a Deus. Praticamente a metade deles são atribuídos a Davi. Seus autores viveram em épocas diferentes. Os textos são datados entre os anos 1.000 e 500 a.C. aproximadamente. Utilizamos os salmos na liturgia da missa.

O livro de Provérbios contém várias coleções de ditos e conselhos originados de diferentes épocas. Sua autoria é atribuída a Salomão. Um dos provérbios diz que “ao insensato parece reto o seu caminho, enquanto que o sábio ouve conselhos” (Pr 12,15).

O livro de Eclesiastes aborda muito a questão do sentido da vida. Ressalta a transitoriedade de todas as coisas e diz: “vi tudo o que se faz debaixo do sol, e eis: tudo vaidade e vento que passa” (Ecle 1,14).

O Cântico dos cânticos, por sua vez, contém diálogos entre a amada e o amado, além de alguns monólogos. Descreve o amor humano de uma forma sublime e profunda, buscando ajuda na poesia para descrevê-lo.

O livro da Sabedoria é normalmente atribuído a Salomão. Foi o último livro a ser inserido no Antigo Testamento, por volta de um século antes de Cristo. Ele trata principalmente da imortalidade da alma e da personificação da sabedoria divina.

Por fim, o livro do Eclesiástico. A obra mais longa dos livros sapienciais, ela traz muito da milenar sabedoria do Antigo Oriente Próximo e dos princípios civilizatórios de Israel.

Acredito que a busca pela sabedoria é uma jornada contínua e gratificante em nossa vida. Dessa forma, ressalto que esses sete livros são uma preciosa fonte de aprendizagem.

Desejo a todos um Feliz e Abençoado Natal!

 

Carlos Alberto Veit

O autor, colaborador desta Revista, é professor,
jornalista e psicólogo clínico em Porto Alegre (RS)
oficialcarlosveit@gmail.com

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