Notícias › 27/02/2019

Cheiro de caderno novo

Quando começava o ano escolar e se anunciava a época de comprar os materiais, a melhor parte sempre era a hora de escolher os cadernos. Na escola infantil eram mais simples, encapados com plástico (sou da época em que cada série da escola primária usava uma cor específica.

Quem lembra?) e os cadernos eram de brochura (Ah… tempos dos cadernos Caderflex!). Depois inventaram os cadernos com espirais. Mas quando os fichários e a moda da folha solta se instaurou, perdeu a graça.

Continuo apaixonado por cadernos. Dos moleskines aos cadernos artesanais. Mas hoje, sempre que posso, faço meus próprios cadernos. É muito mais divertido!

É claro que os cadernos nascem da nossa necessidade de anotar as coisas, de guardar na memória, de querer “eternizar” experiências, imagens, conhecimentos, conquistas, repetir, mostrar para os outros, enfim. E esse período do ano é uma ótima oportunidade para contar às crianças um pouco dessa história. E estimulá-las à criação.

Dá pra começar citando a arte rupestre, as inscrições e desenhos nas cavernas, que podem ser vistos como o primeiro “caderno”. E que tal mostrar também as inscrições e os símbolos inventados na Mesopotâmia, gravados em pedra, argila, metal e até em madeira? Eram já as primeiras transformações daquele “caderno de pedra” e o início da escrita. E os hieróglifos do Egito? Uma maneira sofisticada e muito demorada de escrever!

Com a simplificação dos símbolos usados para a escrita, e para agilizar a comunicação, o tempo e a feitura de documentos, chegamos ao papiro, que é um rolo de fibra vegetal. Os “textos” eram pintados nessa superfície. Depois, a matéria-prima para o papiro começou a escassear e apareceu o pergaminho (pele tratada de animais, como cabra, cordeiros e ovelhas; escrevia-se de ambos os lados; o nome foi dado em homenagem à cidade de Pérgamo, na Grécia), inventado pelos gregos, e muito usado até a Idade Média.

Certamente, foi a invenção do papel que permitiu que estejamos aqui agora falando em caderno. Ele foi fabricado pela primeira vez na China, no ano 105 d.C. por um empregado do Imperador Ho Ti. Ele usou pasta vegetal, feita com fibras de bambu, amoreira e outras plantas. Levou quinhentos anos para chegar ao Japão e à Coreia, e de lá à Ásia Central, ao Tibete e à Índia. Mas foram os árabes que introduziram o segredo da fabricação do papel na Europa, e a Itália e a Espanha desenvolveram rapidamente a técnica. Pronto. Agora, com papel à revelia, podemos falar em caderno e encadernação.

A primeira representação de caderno mais parecida com a que temos hoje foi invenção dos egípcios (da era antiga tardia até a Idade Média). A partir de um objeto chamado Códice, também usado no Egito e ainda com papiro, não mais enrolado, mas dobrado, formando vários cadernos, empilhados e costurados, para ficarem unidos, chegamos próximo aos cadernos atuais.

Os Códices começaram a precisar de capas. Com o manuseio do material, as primeiras e últimas folhas (ainda de papiro) se estragavam. Então, foi necessário usar madeira para proteger a pilha de “cadernos” e em seguida, passaram a revestir a madeira com couro e inventaram a lombada para preservar a costura. A partir daí, com a propagação da escrita, várias técnicas de encadernação foram criadas.

Há na internet muitos sites ensinando a fazer todo tipo de encadernação. As mais usadas são a de costura longa (a costura inicia no miolo, que fica à mostra e vai em direção às extremidades da peça); a brochura (os cadernos são costurados no meio); a belga (a costura é quadrada, os orifícios precisam ser em número par); a bradel (costura longa, mas sem a exposição do miolo); a japonesa tradicional (de quatro furos, com folhas soltas); a japonesa com fita (que substitui o uso tradicional do fio por fita) e a copta (o miolo fica totalmente à mostra e a costura é trançada na vertical, caderno por caderno, ideal para objetos mais volumosos, porque fica muito resistente).

Então, mãos à obra: juntar folhas, dobrar, para fazer pequenos conjuntos, marcar e furar as folhas, criar uma capa com material mais resistente e decorá-la, fazendo colagens, pintando, usando tecidos, bordando, etc. Depois, furar a capa, costurar tudo com fio encerado, fazendo desenhos com o fio, no trançado da lombada. Há uma infinidade de pontos que podem ser utilizados. O segredo da encadernação artesanal é o tipo de costura que se faz. Os cadernos de uso cotidiano não devem ser muito grossos e é o capricho na costura que faz toda a diferença. A receita é fácil. E nada melhor do que ter seu próprio caderno personalizado. É uma maneira e tanto de enfrentar o consumismo e a fabricação em série! Boas aulas! Na escola e na vida

Deixe o seu comentário





* campos obrigatórios.