A última palavra é a ressurreição
Os discípulos, depois da morte de Jesus, voltaram de Jerusalém à Galileia, onde tentaram retornar à normalidade da vida. Para eles, a história de Jesus tinha acabado. O seguimento desembocou em fracasso. Estava na hora de retomar a vida que levavam antes de conhecer Jesus.
Simão Pedro anunciou que ia voltar a fazer o que sempre fez: pescar. Os discípulos que o acompanhavam estavam ansiosos para participar da pesca. Voltar a pescar poderia fazer com que esquecessem o que lhes aconteceu. Mas não funcionou. Por mais que tentassem voltar a uma vida normal, as coisas não davam certo. As pessoas que passaram por um grande trauma entenderam o que Simão Pedro e os discípulos sentiam. Queriam afastar-se o mais depressa possível da dor que suportaram e dos horrores que presenciaram.
Tentaram juntar os cacos de suas vidas e se entregar ao jeito comum de fazer as coisas. Mas as repercussões da dor e do trauma continuaram a martelar em suas vidas, atormentando-os durante o dia e perseguindo-os à noite. Por mais que passassem a noite inteira se esforçando, não obtinham sucesso. As redes estavam vazias.
Um estranho
Nasce o dia. Um “estranho” apareceu na praia e perguntou a respeito da pesca. Diante da resposta negativa, Jesus pediu para lançar a rede do “outro lado” do barco. Em seus esforços estéreis para escapar do passado e reiniciar uma vida comum, os discípulos tinham pescado, quase obsessivamente, no mesmo lugar e do mesmo modo.
A indicação do estranho para que procurassem pescar em outro lugar ajudou-os a romper o ciclo da obsessão. De repente, os olhos do “discípulo amado” se abriram e ele reconheceu quem era o estranho. Esse olhar contemplativo contagiou e todos se libertaram da obsessão cega de encontrar, no retorno ao passado, o alívio para suas angústias: conseguindo assim reconhecer quem estava na praia. No meio do fracasso revelou-se a presença do Ressuscitado. E é Ele que, num gesto de hospitalidade, preparou a refeição, na praia, para os seus discípulos.
Nossas experiências de êxito e de fracasso são indispensáveis para viver. As primeiras trazem valor, alimentam a confiança em nós mesmos, recompensam nosso esforço. As segundas nos revelam aspectos novos de nossa pessoa, nos ajudam a mudar, a redirecionar o sentido de nossa existência.
Êxito e fracasso constituem uma dessas realidades humanas que parecem estar abertas e revelar o melhor e o pior do ser humano. Há aqueles a quem o êxito os transforma em pessoas prepotentes, soberbas, insuportáveis; há outros, no entanto, a quem o êxito os transforma em pessoas encantadoras, seguras de si, simpáticas, empreendedoras. Existem também pessoas a quem o fracasso as afunda num abismo de impotência e agressividade, e outras a quem as converte em seres incrivelmente sensíveis, compassivos, humildes e resistentes. Mais ainda, muitas vezes são os fracassos que nos levam a iniciar uma mudança em nossas vidas.
Ressurreição
Por isso, o fracasso não é a última palavra. A última palavra é a ressurreição. O Ressuscitado que se revela presente nas “praias de nossa vida”, também nos espera nos fracassos, assim como esperou seus discípulos na pesca fracassada, com uma presença acolhedora, compassiva, facilitadora de uma refeição simples, carregada de amizade e humanidade.
A Ressurreição e o Ressuscitado são realidades chamadas a iluminar e dar sentido à nossa vida inteira: aqueles momentos agradáveis e aqueles momentos de desilusão; aqueles momentos de plenitude e aqueles nos quais tudo parece carecer de sentido; aqueles momentos de lucidez e aqueles momentos onde a obscuridade prevalece.
Diante de êxitos e fracassos, desejo-lhe uma feliz e abençoada Páscoa!
PADRE LINO BAGGIO, SAC
O autor, colaborador desta Revista, é padre palotino em Coronel Vivida (PR)
lino_baggio@terra.com.br