A oração do Creio Explicada
A oração do Creio Explicada
“A fé é a resposta do homem a Deus, que se revela e a ele se doa, trazendo ao mesmo tempo uma luz superabundante ao homem em busca do sentido último de sua vida”.
Assim é definida a fé pelo Catecismo da Igreja (n. 26). Poderíamos, porém, nos perguntar: qual é o conteúdo dessa resposta do homem a Deus que se doa para salvar o ser humano? O Creio condensa o conteúdo da resposta. Do ponto de vista histórico, porém, a Igreja formulou duas versões do Creio – também chamado de Símbolo – nos primeiros séculos da sua história.
Uma versão é o chamado Símbolo dos Apóstolos que é composto por doze artigos e que, segundo a tradição, teve sua origem nos Apóstolos. Essa tradição do século IV afirma que os Apóstolos, recebendo o Espírito Santo, se colocaram de acordo, antes de partirem para as mais diversas regiões para anunciar a Boa Nova, sobre a base do ensinamento e a regra de fé para os novos crentes. Cada discípulo teria, então, proposto um artigo, a começar de Pedro, que disse: “Eu creio em Deus, Pai Onipotente, criador do céu e da terra”.
E, assim por diante. O mais provável, porém, é que o Símbolo dos Apóstolos surgiu a partir de uma fórmula cristológica (At 8,37; Rm 1,3s; 1Cor 15,3s; 1Pd 3,18-22) e outra trinitária (Mt 28,30), às quais foram depois acrescentados os demais artigos.
A versão final é provavelmente do século VI.
Credo Niceno-Constantinopolitano
Uma outra versão mais longa do Creio, temos no chamado Credo Niceno-Constantinopolitano. O próprio nome aponta sobre sua origem, ou seja, os dois primeiros concílios ecumênicos da história do cristianismo: o de Nicéia, no ano de 325, e o de Constantinopla, de 381. Fruto, portanto, de intensos debates entre os Santos Padres do período, esse Creio é também o mais longo. Ele é, provavelmente, o mais antigo que o Símbolo dos Apóstolos e teve como objetivo principal afirmar a divindade do Filho (Jesus Cristo) e do Espírito Santo.
Os dois Credos, ainda que com versões diferentes, têm o mesmo conteúdo. Seguem basicamente uma divisão em três partes. As afirmações fundamentais são aquelas sobre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Em relação à primeira Pessoa da Santíssima Trindade, a afirmação fundamental é que é Criador; e criador de todo o universo, expressado nas afirmações: “do céu e da terra” ou “de todas as coisas visíveis e invisíveis”. Essas afirmações demarcam a origem do homem e do mundo em Deus. Tudo tem em Deus a sua origem: esta é a primeira verdade fundamental do Creio.
Humanidade e divindade
Entretanto, a maior parte dos dois Símbolos afirma a humanidade e a divindade de Jesus. Este, de fato, foi o grande problema teológico do século IV. Assim, num primeiro momento temos afirmações que sublinham a origem divina de Jesus (“Filho único”, “Filho Unigênito”, “nascido do Pai antes dos séculos, Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai”). Posteriormente são apresentadas as verdades sobre a humanidade de Jesus; nesse sentido, o tema da encarnação e da morte e ressurreição são os elementos fundamentais. O que esta segunda parte do Credo quer afirmar, em resumo, é que Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem; Ele é também o Salvador da humanidade.
Uma terceira parte do Credo é dedicada a afirmar a divindade do Espírito Santo. Essa foi uma discussão muito própria do Concílio de Constantinopla, onde se destaca a figura de São Basílio Magno. De fato, o Credo dos Apóstolos é muito sintético a respeito do Espírito Santo; já o NicenoConstantinopolitano é mais explícito ao afirmar a sua divindade. Diz: “Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, e procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado. Ele que falou pelos profetas”.
Poderíamos ainda dizer que os dois Credos têm uma quarta parte e aqui também a versão que nasceu dos dois Concílios do século IV é mais extensa. São verdades sobre a Igreja (“una, santa, católica e apostólica”), sobre o batismo, a ressurreição, a comunhão dos santos, o perdão dos pecados e a segunda vinda de Cristo. Nesta última parte há também algumas particularidades próprias de cada um destes resumos da fé da Igreja; ambos apontam sobretudo, porém, ao destino do ser humano depois de sua passagem na terra: o céu. De fato, nascemos de Deus e para Deus voltamos.
O autor, Padre Juliano Dutra, é colaborador desta revista, padre Palotino e professor de História da Igreja na Faculdade Palotina – Fapas, em Santa Maria (RS)
Texto publicado na edição de julho de 2022