Artigos › 20/04/2024

A essência humana

Esta reflexão vem de longa data: o que mais nos identifica como seres humanos civilizados? Diferentes formas de responder essa questão vêm sendo apresentadas ao longo do tempo. Vamos tentar apresentar algumas.
Cada vez que paro para estudar os povos da Terra me vem um certo grau de interrogação e espanto: como somos diferentes, embora também tenhamos tantos pontos em comum!
Em meados do ano passado eu me deparei com um artigo que me apresentou algumas novidades. O artigo era de Marília Fiorillo, antropóloga e professora da USP, mas ela se referia à outra antropóloga, chamada Margaret Mead, pesquisadora norte-americana de renome internacional e já falecida.
Essa história foi contada numa conferência na Universidade de Yale e também publicada na revista Forbes. Perguntaram para Margaret Mead qual seria o primeiro e seguro indício de civilização de um agrupamento humano, com base nos estudos que ela fez durante anos, principalmente na Polinésia.
Antes de ler todo o texto, eu fiquei pensando em qual seria este indício. Um pote de barro? Uma ferramenta primitiva? Uma roupa feita de couro? Desenhos nas paredes das cavernas?
A resposta causou-me muita surpresa, pois Mead disse que o primeiro claro sinal de civilização em uma cultura foi o achado arqueológico de um esqueleto de quinze mil anos. Esse esqueleto tinha um fêmur quebrado, mas cicatrizado.
Cabe lembrar que os humanos, tal qual conhecemos hoje, conseguiram grandes avanços graças à sua inteligência. Os humanos se espalharam por todo o planeta e conseguem viver em ambientes muito inóspitos, como a região gélida do Pólo Norte, onde moram os esquimós, e a região tórrida dos desertos, onde moram os beduínos e os tuaregues.
Certamente, não somos uma espécie como as outras, pois fomos criados à imagem e semelhança de Deus, como está bem claro no livro do Gênesis: “Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher” (Gn 1,27).
Esse diferencial possibilitou que nós, humanos, fôssemos desenvolvendo e aprimorando cada vez mais a fala e a cultura, só para citar dois exemplos. A arqueologia estima que os humanos vivem há centenas de milhares de anos.

CUIDADORES
Por que o achado deste osso cicatrizado foi tão importante para os estudos antropológicos? Porque nenhum ser humano sobreviveria sozinho aos predadores com uma perna quebrada em um ambiente tão hostil como era o de antigamente. Se o osso chegou a cicatrizar, é porque alguém cuidou dessa pessoa, dando-lhe água, comida e proteção.
O que podemos concluir a partir destas observações feitas em pesquisas? Pode-se concluir que o principal fator de desenvolvimento da civilização humana foi a cooperação, ou também dizendo, a solidariedade, ou seja, somos cuidadores uns dos outros.
Com isso não se pretende simplesmente eliminar outras teorias anteriores, mas ressaltar e acrescentar que somos humanos também porque aprendemos a nos proteger e a nos cuidar mutuamente.
Humanos egoístas e isolados não teriam sobrevivido a ponto de chegarmos no nível de civilização em que nos encontramos hoje. Portanto, podemos conciliar várias teorias antropológicas, mas enfatizando nossa filiação divina, nosso anseio por Deus, a cooperação e a solidariedade como pontos chaves da nossa humanidade.
O que causa preocupação é que nós, seres humanos, ainda não nos conscientizamos o suficiente a ponto de chegarmos em um nível de cooperação em que a paz, a erradicação da fome e a promoção da justiça social se estendam por todo o planeta.
O egoísmo, a rivalidade, o materialismo, a ganância e a falta de uma fé verdadeira fazem com que guerras continuem e se espalhem por nosso planeta.
Somos a única espécie criada à imagem e semelhança de Deus. Sendo assim, cabe a cada um de nós colaborar, mesmo que com uma pequena parcela de contribuição, para que a cooperação e a solidariedade entre as pessoas (além do cuidado da natureza) nos levem a um nível de civilização mais condizente com nossa condição humana e de origem divina.

Carlos Alberto Veit
O autor, colaborador desta Revista, é professor, jornalista e psicólogo clínico em Porto Alegre (RS)
oficialcarlosveit@gmail.com

Deixe o seu comentário





* campos obrigatórios.