A beira do abismo?
Aqui estamos nós, iniciando mais um ano. Uma nova passagem de ciclo e como sempre a oportunidade de revermos conceitos e projetar mudanças e ajustes em nossas vidas. Será mesmo?
Vou voltar um pouco no tempo, para ser mais preciso em 1992, trinta anos atrás ocorria a Rio-92. Este foi o segundo grande evento sobre o meio ambiente realizado no mundo, que teve como objetivo, de maneira geral, debater e encontrar soluções para problemas ambientais da época e também para outros que pudessem vir a surgir. Ele foi realizado vinte anos depois da Conferência de Estocolmo, ocorrida também no mês de junho, em 1972, na capital da Suécia.
A Rio-92 tinha como objetivo central alertar que, caso todos os países buscassem o mesmo padrão de desenvolvimento das nações com grande poderio econômico, não haveria recursos naturais disponíveis para todos sem que fossem gerados gravíssimos danos ao meio ambiente.
Com esse argumento ficou oficializado o conceito de ’’desenvolvimento sustentável” e ações passaram a ser elaboradas com o intuito de garantir a proteção ao meio ambiente e de convívio equilibrado com o planeta.
Em suma, o evento é considerado um marco sobre como a sociedade se relacionava e passaria a conviver com o planeta. Ademais, foi a partir da conferência que as nações passaram, oficialmente, a priorizar o desenvolvimento sustentável, isto é, seus respectivos progressos socioeconômicos levando em consideração a preservação ambiental.
Tudo muito bonito, porém, na prática percebemos que nesses trinta anos, a sociedade como um todo conseguiu dar passos significativos em prol da natureza, mas confesso que o meu “romantismo” da época foi aos poucos sendo tomado por uma dose de tristeza e cansaço ao ver que esses passos foram na velocidade de uma tartaruga e que, em contraponto, o consumismo e a degradação da natureza como um todo esteve sempre acima dos limites de velocidade.
Repensar nosso futuro, no presente
Nos últimos anos, pra piorar, ainda assistimos a governos simplesmente negando até a existência do aquecimento global. Sério isso! Estamos literalmente a beira do caos climático e em pleno 2023, ainda nos encontramos debatendo temas futeis e vislumbrando mais o lucro do que a sustentabilidade em si. Mas, nem tudo está perdido. Começamos 2023 com os reflexos da Cop27, que novamente busca conter as mudanças climáticas a partir de mecanismos aplicáveis globalmente. Durante a conferência, os países tentam definir aspectos centrais para a implementação do Acordo de Paris, falar sobre os compromissos que estão sendo trabalhados por eles e dar previsibilidade ao financiamento climático.
A Amazônia, as queimadas, o aumento da fome no planeta e a implementação do uso de energias renováveis deveriam ter sido os principais temas que os governantes debateriam no evento, porém, não foi bem assim. Ao menos, foi proposta a criação de um Fundo Global para resolver ou amenizar os efeitos causados pelas mudanças climáticas, infelizmente, ainda sem data para sua implementação.
Confesso que já vi esse filme e tenho consciência de que nem tudo o que foi debatido e decidido será colocado em prática, mas como um bom otimista, cruzo os dedos desde já para que o bom senso prevaleça nas decisões, afinal, dependemos disso para termos um futuro mais sustentável e equilibrado. Caminhamos em direção ao abismo. Não podemos e não temos o direito de dar um passo a frente. Esse é o momento de parar e rever conceitos. Que possamos aproveitar os bons ventos da mudança e fazer com que essas mudanças sejam implementadas na prática para o bem de todos…
Um feliz 2023 para todos nós e que possamos deixar esse “abismo” para trás e que possamos andar para frente, mas para um mundo mais verde e sustentável para todos.
Juarez Rodolpho dos Santos
O autor, colaborador desta Revista, é designer gráfico em Porto Alegre (RS)