Artigos › 02/07/2021

O individual e o coletivo, Em que sociedade vivemos?

Nos reconhecemos enquanto indivíduos, desde tenra idade, quando começamos a perceber quem somos no meio em que vivemos. O termo indivíduo traz, de pronto, a ideia de individual. Dessa forma, começamos a nos enxergar como um ou como único dentro da sociedade a que pertencemos.

No entanto, cada ser é único, mas totalmente dependente do meio e do grupo em que vive. Sendo assim, nossa noção de individualidade é controversa pois, afinal, somos indivíduos coletivizados e/ou socializados. Interferimos no grupo ao qual pertencemos e somos influenciados por ele.

Então, esse perceber-se indivíduo (que ocorre num primeiro momento) deveria ser substituído por um perceber-se coletivo, um perceber-se como ser social. Essa noção de indivíduo faz com que, muitas vezes, as pessoas não consigam perceber-se socialmente responsáveis pelo grupo ao qual pertencem, o que faz com que ajam como indivíduos, primando sempre pelo individual.

Nos últimos anos, mostra-se crescente o sentimento altruísta dentre as pessoas na sociedade brasileira. A concepção de responsabilidade social parece aumentar e transcende-se para as várias esferas que compreendem desde o poder público, passando pela iniciativa privada, as fundações e os membros da sociedade civil.

Apesar disso, um longo caminho ainda precisa ser trilhado para que consigamos evoluir neste aspecto. O egoísmo deve ceder espaço para o altruísmo. O individualismo precisa ser substituído pelo coletivismo. Nós não conseguimos nos desenvolver sozinhos, já que sempre precisamos contar com as bases que vem do grupo (nos desenvolvemos porque aprendemos ou somos estimulados pela família, os amigos, os professores, o colégio).

A vida não se passa no individual, ela acontece no coletivo.

É perceptível que a pandemia do Coronavírus provocou muitas mudanças na vida em sociedade e evidenciou a relevância das ações coletivas. Cuidar-se e proteger-se, adotando as medidas de distanciamento, não podem ser escolhas de cada um de nós, pois se não as adotarmos estaremos colocando em risco a saúde dos outros; tomar a vacina também não pode ser escolha individual, pois se não fizermos estaremos aumentando o risco de contágio de todo o grupo.

Por outro lado, o vírus nos mostrou o quanto o convívio é importante, o quanto precisamos das pessoas para nos sentirmos bem, o quanto estarmos juntos (presencialmente) é mais significativo do que mantermo-nos no isolamento. A pandemia veio ratificar a importância do social à medida que nos colocou no individual (no isolamento).

João Gilberto (1931-2019) nos dizia na sua célebre canção “Vou te contar”, que “fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho”. Dentre tantas perdas que tivemos com a pandemia da Covid-19, ganhamos a oportunidade de refletir sobre o quanto estar junto das pessoas amadas é importante e fundamental para que possamos estar felizes. Então, não seria esta uma grande oportunidade para desenvolvermos o espírito coletivo, a cooperação e a empatia?

Parece que é chegado o momento de reconhecermos que estamos vivenciando um momento único na história planetária, que trará inúmeras mudanças. E essa transformação não deve ocorrer somente fora de nós, mas internamente. Ao vivenciarmos tantas dificuldades, tantos desafios, a gente precisa mudar. Mudar para crescer. Crescer para evoluir.

No momento em que conseguirmos nos colocar no lugar do outro, estaremos sendo empáticos. Só vamos evoluir enquanto sociedade quando alcançarmos este estágio. Ele é como um pilar para a evolução humana.

A bondade, a caridade e a empatia: seria esta uma tríade salutar para evoluirmos enquanto sociedade? Deixarmos de nos aprisionar nas amarras do individualismo e preservarmos as ações sociais, a cooperação, o altruísmo. Saia do casulo, observe a vida ao seu redor. O que acontece às pessoas do seu meio não é somente problema delas, mas seu também. Você, enquanto indivíduo, não pode mudar o mundo, mas pode desenvolver ações que modifiquem o meio em que vive.

Muitos precisam de você para vencer os inúmeros desafios oriundos da pandemia. Estamos diante de um problema coletivo. Então, abandone o individual. Mude. Cresça. Evolua. Se a Covid-19 veio para mudar a nossa vida, não temos como passar por ela sem mudar. Quando tudo isto passar, você recordará que, apesar de todas as dificuldades, você se tornou uma pessoa melhor.

A autora Giovana Souza Freitas, colaboradora desta revista é professora universitária e Doutora em Economia.

Texto publicado na edição de Junho/2021

Deixe o seu comentário





* campos obrigatórios.