Após o caos surge uma nova ordem
Recentemente iniciou no mundo uma grande mudança por conta da Pandemia da Covid-19, com reflexos imensos para a sociedade, principalmente em relação aos serviços de saúde, economia, política, educação e outros tantos segmentos.
Para muitas pessoas, o sentimento experimentado diante das repercussões dessa Pandemia é de caos, de guerra, de destruição, ameaças de contaminação e morte. O pânico gerado pelo isolamento, solidão decorrente e a eminente falência dos locais de trabalho, assim como da incerteza em relação a futuras soluções, são incógnitas que testam as capacidades das pessoas.
As repercussões psicológicas são muitas, principalmente dos que foram acometidos pela infecção, dos familiares que perderam seus entes queridos, das notícias de que uma pessoa próxima ou parente está nas estatísticas, assim como os boatos falsos que a todo momento circulam pelas redes.
Além disso, as comunicações que a mídia transmite, muitas vezes exageradas, espalhando pânico, sem enumerarmos os desencontros dos dirigentes políticos e tantas outras especulações sobre a descoberta e eficácia de uma vacina.
O resultado disso tudo é sentido nos consultórios, quando nossos pacientes (principalmente os do grupo de risco) apresentam uma série de sintomas físicos e psicológicos decorrentes desse inimigo real, invisível e por vezes imaginário. Nunca se medicou tanto para quadros de ansiedade, depressão, transtornos de humor, insônia, bipolaridade e outros mais como na atualidade.
Enquanto para alguns existe um temor de que o final dos tempos iniciou, para outros mais otimistas a explicação é a de que, após o caos (a exemplo de outros momentos da história da humanidade), surgirá uma nova ordem, com a adoção de novos comportamentos no mundo, principalmente aos relacionados ao modo de vida.
O principal significado que a sociedade vem percebendo é que está sendo testada em sua capacidade de tolerância e de que as mudanças comportamentais são inevitáveis, como a adoção de novos hábitos para se relacionar com a família, no trabalho, nos colégios, universidades, na comunicação, no consumo e diversão, nos valores e na fé.
Esse momento tem despertado o que existe dentro de cada um como pensamentos e emoções, positivos ou não, que vão gerar condutas e atitudes que poderão acrescentar novos aprendizados e maturidade ou impactar a sociedade e ao próprio indivíduo, com repercussões para a saúde física, psicológica e social.
Saber administrar o stress decorrente de tantas mudanças exige encontrar-se com seus sentimentos, que até então estavam canalizados para uma série de atividades do dia a dia, além da profissão, academias, shoppings, restaurantes, consumo muitas vezes desnecessários, baladas, enfim uma série de ações que mantinham as pessoas envolvidas e não paravam para pensar qual é o sentido existencial em suas vidas.
O Dr. Hans Selye, estudioso que descreve a “Teoria do Stress”, afirma que toda agressão e violência – seja ela física, psíquica, traumática, infecciosa, tóxica, equivalente à experiência de dor, pode desencadear uma série de mudanças internas no organismo, através de neurossecretores (conhecidos na atualidade por hormônios liberadores, produzidos pelo sistema nervoso central), causando perturbações do equilíbrio homeostático.
O Dr. Juan Hitzing, ao estudar características de alguns comportamentos, principalmente de longevos saudáveis, concluiu que a saúde dessas pessoas se deve mais além das características biológicas. O denominador comum encontrado entre os pesquisados está em suas condutas e atitudes. Segundo esse autor, para ter um equilíbrio saudável é importante considerar os recursos psicológicos disponíveis, porque cada pensamento gera uma emoção, que gerará por sua vez um circuito hormonal, que impactará nos trilhões de células que formam um organismo. E a saúde depende desse equilíbrio emocional.
Por isso, esse novo momento que o mundo está vivendo pode ser uma oportunidade para as pessoas refletirem como estão vivendo e que atitudes deverão ser adotadas, como otimismo, serenidade, sabedoria, trocas afetivas, sorriso e novas readequações aos antigos hábitos, porque isso gerará apreço, amizade, amor, compreensão, aceitação e aproximação das pessoas. Evitará os sentimentos de solidão e desamparo.
Por outro lado, aproveitar o momento para corrigir as condutas baseadas em ressentimentos, raiva, rancor, resistências e outras mais, evitará a aceleração de secreções corrosivas para as células do corpo, responsáveis pelos quadros de depressão, raiva, dor, desespero, desânimo, pessimismo e oportunizará entender que as restrições da liberdade decorrente da pandemia, além de serem cuidados consigo e o outro, podem ser aproveitadas como uma possibilidade de mudanças que há muito deveriam ter ocorrido em suas vidas.
Poder acompanhar a evolução de muitos pacientes que procuraram por psicoterapia e puderam rever seu modo de viver, refletindo sobre si, sobre a família e sobre o que poderia mudar em seu trabalho, confirma a lógica de que na humanidade após o caos sempre surge uma nova ordem.
A autora, Helena Balbinotti é colaboradora desta Revista, psicóloga clínica e psicogenrontóloga em Porto Alegre (RS).
Texto publicado na edição de janeiro/fevereiro de 2021.