Os desafios para viver a melhor idade
Com a nova ordem social e mundial, viver a longevidade requer reflexão.
Ser longevo nos dias atuais pouco lembra o que era há 50 anos atrás. A começar pela expectativa de vida.
Segundo o IBGE, em 1970 esse índice era de 45,5 anos, muita gente nem chegava à terceira idade, que pela classificação atual começa aos 65 anos. Em 2020 esse indicador passou para 76,6 anos, ou seja, temos uma nova população de pessoas com características e necessidades diferentes.
Existe uma grande parcela dessa população madura que trabalha, estuda, tem metas pessoais e profissionais e que dão grande contribuição para a sociedade. Em contrapartida, temos uma parcela que tem pouca dignidade de vida, com problemas como descaso da família, recursos para sobrevivência limitados, dentre tantas outras questões.
Ademais, há muito que se construir para que haja a promoção da qualidade de vida e para o bem-estar desse nicho da população. Muitos são os desafios, como a falta de preparo para a inserção da população idosa nas diferentes esferas da sociedade e para o cumprimento e execução dos direitos desses indivíduos.
Em 2003 foi instituído o Estatuto do Idoso, que prevê os direitos e deveres. A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia explica que este documento foi criado para prover as “garantias prioritárias”, contemplando aspectos relativos a transporte, passando pelos direitos à liberdade, à respeitabilidade e à vida, além de especificar as funções das entidades de atendimento à categoria, discorrer sobre as questões de educação, cultura, esporte e lazer, dos direitos à saúde através do SUS, da segurança alimentar, da profissionalização e do trabalho, da previdência social, dos crimes contra eles, tanto em ações por parte do Estado, como da sociedade como um todo.
No entanto, ainda há uma grande necessidade destas questões serem tiradas do papel. Que se invista na execução desses fatores. Tais políticas públicas demoram tanto a serem postas em prática que, em alguns casos, quando são operacionalizadas já estão fora de contexto, não correspondendo à realidade de grande parte dos brasileiros com mais de 65 anos.
Quando o indivíduo está nessa fase da vida é costumeiro ser associado de forma equivocada à inatividade e à aposentadoria. Embora este necessite de uma rede de assistência, cuidados e políticas próprias, existe uma transição que varia bastante na sociedade brasileira. Hoje, muitos trabalham ou estão disponíveis no mercado de trabalho, mantém uma vida social ativa, se relacionam das mais variadas formas, consomem, viajam etc.
Se formos analisar no aspecto tecnológico, percebemos que eles estão cada vez mais conectados e interagindo digitalmente nas redes sociais. Existem pesquisas que revelam que eles formam o grupo que mais cresce entre usuários da internet no Brasil – um em cada quatro brasileiros acima dos 60 anos já está na internet, principalmente no Facebook, de acordo com um levantamento da consultoria Senior Lab.
Não apenas para conexão social, este grupo também utiliza a internet para aprender novas atividades, fazer serviços bancários, comprar online, acompanhar notícias e jogos. Em suma, estes são alguns dos dados que expõem a necessidade de transformações concretas na forma como governo, instituições e sociedade lidam com o amadurecimento no Brasil. Além de promover uma rede de assistência à pessoa idosa, é preciso estimular a capacitação de profissionais voltados para as suas demandas, bem como a inserção do idoso nas diferentes esferas sociais e a promoção de políticas inclusivas, acesso à saúde e à educação.
O que quero provocar em você leitor é um novo olhar para essa parcela da população. Que você desconstrua essa visão do velhinho ou velhinha incapaz. E que desperte para uma visão de cuidado, de entendimento de como pode aproveitar o convívio com os mais experientes.
Se você, que me lê agora, for da melhor idade, convido a ressignificar como se vê e aos demais da sua faixa etária. Pense no que toda essa vivência tem a acrescentar, valorize o esforço de quem está vencendo barreiras, seja quais elas forem.
Faça uma autoanálise, como você tem tratado as pessoas desta faixa etária e/ou como você tem se tratado. Estar vivo e feliz é muito mais que uma questão biológica; é uma questão de atitude, esperança e crença no que Jesus Cristo nos ensina..
O autor, Henrique Alonso, é fotógrafo, relações-públicas e atua com comunicação organizacional.
Texto publicado na edição de maio de 2021.