Olhando para as nossas mãos
Olhando para as nossas mãos
Elas podem ser simplesmente misteriosas, delicadas, cheias de arte e esplendor! Elas podem ser tão criativas e engenhosas que logo percebemos sua natureza quase divina, além de majestosas, necessárias, sublimes.
Há mãos dóceis e sensíveis, fortes e expressivas, ternas e serenas, calejadas e sofridas! Quase todas as artes passam por elas e com elas são exercidas! A arte de plantar, colher, se alimentar, pintar, esculpir, compor, escrever, cuidar, cozinhar, ler, medicar, lavar, passar, tecer, costurar, dirigir, indicar, socorrer, educar, servir! Praticamente todos os sentimentos, gestos e expressões encontram nas mãos uma singular e eficiente cooperação! Sim, o tradicional aperto de mãos, como cumprimento inicial; o adeus, na partida; os mais variados carinhos traduzidos nos seus toques suaves e sensíveis; o rezar, com elas entrelaçadas; cerradas ou abertas numa comemoração esportiva; postas sobre a mesa de trabalho; dentro do bolso; estendidas, apontando para o céu, pedindo proteção. Elas são imprescindíveis e de especial delicadeza no exercício da afetividade.
Sem as mãos, o que seria das mais variadas modalidades esportivas? Vôlei, basquete, remo, automobilismo, boxe, judô, iatismo, ginástica, ciclismo, escaladas, hipismo, peteca, tênis de quadra e de mesa, tiro, xadrez. Mesmo no futebol, onde os pés são absolutos, elas não podem faltar para o bom desempenho do goleiro e, também, para a cobrança do lateral, além de proporcionar o necessário equilíbrio na corrida.
É singular o carinho com o qual elas envolvem a bola para o pênalti, a extrema delicadeza aplicada na hora de colocá-la na marca branca e a explosão que elas encerram, se convertido ou perdido – neste último caso, são logo levadas à cabeça!
A mão de Jesus, que salvou Pedro em alto mar, permanece estendida para nos levantar e nos conduzir, a cada dia, todos os dias. E como Jesus usou as mãos! Como Ele tocou a tudo e a todos! Tocou nas crianças, na multidão, em muitos cegos, coxos, doentes, inclusive um leproso – gesto impossível de imaginar, na época, em razão de a lepra ser uma doença contagiosa. Na última ceia, Ele tomou em suas mãos o pão e o cálice com vinho e os transformou em seu corpo e no seu sangue, ficando, assim, Ele mesmo como nosso alimento, para nos sustentar nas estradas da vida e do nosso caminhar! E ainda pediu que se repetisse esse gesto em sua memória. Sim, através das mãos dos sacerdotes, estendidas sobre o pão e o vinho, continuamos recebendo, em cada Eucaristia, o Corpo e o Sangue do Senhor! Ainda, das mãos sacerdotais recebemos, as bênçãos, o batismo, a hóstia consagrada, a confirmação, a bênção nupcial no matrimônio, a unção dos enfermos para a cura e/ou o grande encontro.
Guardemos esta sabedoria para a nossa vida: não tenhamos as mãos cheias ou com muitas coisas, sobretudo com o que é supérfluo, desnecessário! Sim, há pessoas que estão com as mãos tão cheias de coisas – ou esperando tantas coisas – que Deus não encontra espaço para cumulá-las de plenitude e preenchê-las com seus dons!
Vamos segurar-nos na mão de Deus e seguir no caminhar dos nossos dias!
O autor, Padre Lino Baggio, é colaborador desta revista e padre palotino em Coronel Vivida (PR)
Texto publicado na edição de agosto de 2022