O valor da amizade
A importância deste vínculo para a nossa vida e de toda a nossa comunidade
No mês de julho no Brasil se comemora o “Dia do Amigo”, uma data proposta para celebrar a amizade entre as pessoas. Também em países como Uruguai, Argentina e Moçambique o dia escolhido para esta celebração é 20 de julho, aniversário da chegada do homem à lua.
A iniciativa para o estabelecimento de um Dia do Amigo reconhecido internacionalmente teve como antecedente histórico a Cruzada Mundial da Amizade, uma campanha em favor da valorização e realce da amizade entre os seres humanos, de forma a fomentar a cultura da paz. Foi idealizada pelo médico paraguaio Ramón Artemio Bracho, em Puerto Pinasco, em 1958. A partir desta iniciativa, várias nações elegeram uma data para comemorar este vínculo.
Esmiuçando mais a origem da comemoração, vamos rememorar mais uma ação realizada pelo professor e médico argentino Enrique Ernesto Febbraro. Com a chegada do homem à lua, em 20 de julho de 1969, ele enviou cerca de quatro mil cartas para diversos países e idiomas com o intuito de instituir o Dia do Amigo. Febbraro considerava a chegada do homem à lua “um feito que demonstra que se o homem se unir com seus semelhantes, não há objetivos impossíveis”. Feito este resgate, vamos passar para a reflexão da importância deste sentimento para a humanidade.
Amigos são pessoas com afinidades em que as histórias de vida se cruzaram, sem nada planejado ou pré-estabelecido, e surge naturalmente a disponibilidade para o convívio e a cooperação mútua. Com o passar do tempo, ou dos anos, os amigos vão se conhecendo mais e mais, participam das mesmas experiências, vão se sentindo à vontade para partilhar experiências e emoções, o que gera confiança e intimidade.
Neste ponto, destaco algo fundamental para que uma amizade perdure: a confiança. É um pacto implícito, à medida em que os amigos vão convivendo a necessidade de cumprir expectativas aumenta também. É preciso coincidir o desejo de compartilhar uma história, guardar esta história, que envolve capítulos da comédia ao drama, em narrativa não linear. Confiança significa também ser discreto ao que lhe é confiado, respeitando os sentimentos de quem lhe confia algo muito pessoal e íntimo.
Por isso que as amizades são desafiadoras muitas vezes, sobretudo pela complexidade das relações humanas. Amigos precisam estar dispostos à experiência de se conectar em nível profundo e positivo para trocas, oferecendo o que há de melhor dentro da gente. Mas é preciso lembrar que estamos em constante processo de mudança, sobrepostos a uma rotina de obrigações e compromissos, sem falar na constante instabilidade natural da vida, que parece não favorecer a construção de laços mais profundos ou a manutenção de vínculos mais próximos. A amizade, no entanto, rompe essa tendência, é como verdadeiramente um milagre de Deus, e nos coloca lado a lado, para seguirmos em frente juntos, compartilhando o que a vida apresenta.
Amigos dividem histórias, opiniões, aprendizados, segredos, risadas, memórias, silêncios, dores. Fazem com que os problemas sumam temporariamente, compartilham dos mesmos gostos e interesses, aceitam e respeitam as diferenças, nos dão apoio quando precisamos, torcem para que a gente cresça e alcancemos vitórias, e estão presentes para as comemorações.
A manutenção dela exige cuidado. O tempo dedicado a conhecer e cultivar alguém precisa ser considerado, e a distância não é impedimento quando existe a vontade de conservar a relação, de estar para o outro. Às vezes assume faces finitas, pausadas e distantes. Isso acontece porque ela é feita de ciclos, intervalos e se adapta à pessoa que somos ao passar dos anos. Aquelas relações que se desmancham tão rápido quanto se fizeram revelam, geralmente, comportamentos ainda imaturos e dificuldades em estabelecer vínculos duradouros, que resistam às dificuldades do dia a dia.
Se pensarmos friamente, ninguém é obrigado a nada, mas dos amigos esperamos retorno, determinadas atitudes, buscamos correspondência, queremos ter necessidades satisfeitas e ser contemplados em nossas próprias vontades, o que pode desencadear sentimento de frustração.
Só a capacidade de lidar com decepções nos permite entender e aceitar o outro em suas particularidades e, assim, sustentar a amizade. E o amigo também precisa lidar com a nossa impossibilidade de cumprir todas as expectativas. Assim funcionam as relações interpessoais.
E por fim, não podemos esquecer o melhor modelo de amigo que poderíamos ter, nosso bom Jesus Cristo, filho de Deus Pai. Exemplo e modelo de conduta, que sempre está disposto a se entregar por nós, se o levarmos como amigo, nunca nos sentiremos sós.
O autor, Henrique Alonso, é fotógrafo, relações-públicas e atua com comunicação organizacional.
Texto publicado na edição de julho de 2021.