O que são indulgências
Na Bula de Proclamação do ano jubilar de 2025, Spes non confundit (Rm 5,5), o Papa Francisco retomou uma doutrina secular do catolicismo, a possibilidade de os fiéis receberem as indulgências. Segundo Francisco, no momento do juízo esperamos receber o dom da salvação que Jesus nos obteve com sua morte e ressurreição. Nesse momento, todo mal, mesmo o oculto, precisa ser purificado, para nos permitir viver totalmente no amor de Deus. Aqui se inserem, pois, as indulgências que são destinadas particularmente àqueles nossos irmãos que nos precederam e que esperam obter a plena misericórdia de Deus (n. 22-23).
Assim, segundo o ensinamento de Paulo VI na Indulgentiarum Doctrina (1967), a indulgência é a remissão da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à falta por meio do sacramento da confissão (n. 8).
Alicerçada na comunhão dos Santos que nos faz solidários no bem e na oração mútua, as indulgências permitem que nos ajudemos mutuamente a fim de superarmos o mal que existiu ou existe em nossos corações. As indulgências apagam, então, a pena temporal, as consequências, as marcas que o pecado deixou em nós. Se na confissão acontece, por meio do sacramento, o perdão dos pecados, as indulgências limpam as ‘cicatrizes’ que o pecado deixou em nós ou em nossos irmãos falecidos.
Este é o ensinamento da Igreja que, originado no ensinamento dos Apóstolos, foi desenvolvido na Idade Média no contexto do primeiro jubileu da história do cristianismo: o jubileu de 1300 convocado e proclamado pelo Papa Bonifácio VIII.
Seria uma deturpação desta doutrina se a víssemos, porém, somente como algo externo ou sob o prisma jurídico, que marca o contexto em que nasceu. Para compreendermos o sentido maior, recordemos as palavras do Papa Francisco na Bula de Proclamação do Jubileu de 2015/16. Jesus é o Rosto da Misericórdia do Pai. “Precisamos sempre contemplar o mistério da misericórdia. É fonte de alegria, serenidade e paz. É a condição da nossa salvação. Misericórdia: é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade. Misericórdia: é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro” (n. 2). Mais: a misericórdia é a arquitrave que suporta a vida da Igreja (n. 10).
Padre Juliano Dutra, SAC
O autor, colaborador desta Revista, é padre palotino e professor de História da Igreja na Faculdade Palotina – Fapas, em Santa Maria (RS)
julianodutr@gmail.com