Mudanças climáticas e a saúde mental
Temos percebido, nos últimos tempos, eventos climáticos extremos: calor, enchentes, tornados, frio, seca, dentre outros. Tais eventos têm ocasionado muita ansiedade nas pessoas, principalmente naquelas que estão no “olho” de um deles.
Tudo isso tem provocado um mal-estar nas pessoas em geral, até mesmo naquelas que ainda não sofreram tais eventos. Essas mudanças climáticas desafiam a saúde mental e passam a exigir novas adaptações até mesmo em nível mundial
Para os pesquisadores espanhóis, Cristina Linares e Julio Díaz, a crise climática é o maior desafio que a humanidade enfrenta. Possui consequências sociais e econômicas, bem como afeta a saúde mental das pessoas. Por si mesmas não causam doenças, mas têm seus efeitos psicológicos uma vez que ampliam os efeitos das doenças, ocasionando até mesmo a morte de muita gente. Dessa forma, gera ansiedade e preocupação imensa, pois coloca a vida em perigo. Além do mais, seus efeitos são sentidos no mundo inteiro.
Segundo os pesquisadores citados, “além do aumento de lesões e traumatismos causadas por eventos extremos, essas situações de estresse muito intenso e ansiedade geram na população afetada – especialmente entre os mais vulneráveis por idade ou gênero – um gatilho importante de várias doenças mentais em diferentes faixas de gravidade.” Configura-se cada vez mais que as mudanças climáticas afetam a saúde mental, pois expõe a traumas psicológicos e estresse, sobretudo quando existem desastres climáticos que são frequentes. Produzem traumas, deslocamentos de multidões de seus lares e lugares, geram insegurança, ansiedade, estresse pró-traumático, depressão e até mesmo suicídio. As mudanças climáticas poderão gerar também o aumento do uso de drogas e álcool, podendo provocar distúrbios emocionais e comportamentais.
Novos desafios
Percebe-se uma nova fase de angústia psíquica e de estresse existencial provocados por ambientes degradados e deteriorados pela poluição ambiental que agrava o sentimento de impotência e incapacidade para se encontrar uma solução. Isso, por sua vez, gera um sentimento de perda e de dor, tendo como consequência problemas graves de saúde mental. Enfim, são problemas psicológicos advindos de todo esse processo de intensas mudanças climáticas.
Não há como negar que o clima mundial está mudando. Contudo, parece não haver preocupação o quanto isso afeta a saúde mental das pessoas. De acordo com a Dra. Susan Kassouf: “Nós nos dissociamos emocionalmente do dano que infligimos ao meio ambiente, o que significa que separamos o agrupamento psíquico de sentimentos relacionados ao aquecimento global e criamos uma barreira de amnésia para aliviar o sofrimento mental”.
Dessa forma, não se associa a eco-ansiedade (saúde mental) com as mudanças climáticas e, assim, persiste a negação do que está acontecendo com o Planeta. No entanto, é importante reconhecer que as mudanças climáticas produzidas pelo aquecimento global não produzem somente alterações ambientais, mas também psicológicas.
Mudança de mentalidade
Será necessária uma mudança de mentalidade, a qual o ser humano, por sua vez, é resistente. Contudo, é preciso o envolvimento de todos e não apenas de poucas pessoas. Afinal, é imprescindível ter presente que a natureza afeta a todos, sem distinção econômica e social. Talvez ainda muitas pessoas não tenham se dado conta do estado de desamparo a qual está sujeita a humanidade. Assim, não se pode mais duvidar da origem da ação humana nas mudanças climáticas, como escreveu o Papa Francisco na Carta Encíclica Laudato Si’.
Na carta, o Papa alerta que estamos num momento de ruptura e que o mundo que nos acolhe está desmoronando. Com isso, ele exorta o empenho de todos para mudar esse quadro. Desse modo, é preciso repensar o uso do poder humano, para criar uma ética sólida, uma cultura que limite a exploração desenfreada do Planeta Terra. Sugere o Papa que é preciso pôr fim à ideia de um ser humano autônomo, todo-poderoso e ilimitado.
É preciso, portanto, reconciliar a humanidade com o planeta Terra.
PADRE SÉRGIO LASTA, SAC
O autor, colaborador desta revista, é psicólogo, doutor
em Educação e padre palotino em Santa Maria (RS
sergiolasta@gmail.com