Notícias › 06/12/2018

Fim de ano e a metáfora do fim de ciclos

De setembro a dezembro, espontaneamente, a atenção recai sobre os finais. E tudo converge para os encerramentos, alimentando, ainda mais, a sensação de um fim iminente. A sociedade cristã ocidental se organiza de tal forma que o fim do ano civil e do ano cristão convirjam, desta forma, encerra-se o ciclo litúrgico e o ano litúrgico inicia abrindo um tempo de expectativa, o advento.

Todos os dezembros nos surpreendem com eventos que coincidem e convites para encerramentos que não conseguimos comparecer por ter outro, e outro mais, na mesma data. Tudo aponta para o fechamento dos ciclos, cursos têm formaturas, catequese tem sacramentos, atividades têm seus finais, tudo sublinha que o fim está próximo.

Diante de tão enfática mensagem não é possível ficar à margem do pensamento que evoca os fins na vida pessoal. E pensar no fim é inquietante, às vezes doloroso e, por isso, causa desconforto, medo e ansiedade. Não é por nada que muitas pessoas afirmam não gostar desta época. Há aqueles que fazem de tudo para manter a sua vida e rotina sem alteração, sem enfeites, sem bengalinhas de marzipã e sem pisca-piscas, para não participar desta manifestação coletiva de rito de passagem. Os mais pragmáticos argumentam ser a virada de ano apenas a troca de um segundo por outro. Mas, se colocar sob perspectiva mais ampla, é o fim de um minuto, de uma hora, de um dia, de um mês, de um ano por outro.

Esta metáfora de fim de ciclo pode desencadear mal-estares que afetam a saúde mental, por isso, é necessário olhar com cuidado e acolher com empatia as fragilidades, sejam pessoais ou de outros. Lutos mal elaborados e perdas reprimidas ao longo do ano tendem a se tornar particularmente exigentes neste período e, um agravante neste mal-estar é imposto pela quase necessidade de estar feliz, de ser sociável e esquecer o que ficou no ano que termina.

O melhor modo de bem viver esta época, especialmente para aqueles que estão de luto, é ser autêntico sem alimentar expectativas de uma felicidade mágica, mas com a disponibilidade de acolher o afeto e a presença daqueles que desejam o seu bem e querem estar juntos celebrando o bem que foi vivido e a força para enfrentar o que não foi bom. É assim que a vida acontece, mansamente, sem negação ou euforia, mas na certeza que aos fins seguem-se novos começos e, seja no fim, seja no princípio, Deus se encontra lá.

Bom fim de ano!

Ótimo início de ano!

Sônia Sirtoli Färber

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