Em nome do Pai
O nome é aplicado a qualquer indivíduo de uma classe de seres. É também o antropônimo dado a uma criança ao nascer, de acordo com a cultura e os costumes de cada povo.
O nome dado a uma pessoa não é simplesmente um mero sinal ou etiqueta de identificação. O ato de dar nome a alguém torna presente a própria pessoa, com sua identidade misteriosa e seu vigor único. Neste sentido, pode-se afirmar que o nome caracteriza a pessoa.
O nome é som produzido pela ação da força movente que constitui e distingue cada pessoa em sua identidade, adquirida no batismo. A pronúncia do nome, de algum modo, evoca a origem do sujeito em questão.
Não é raro alguém assumir uma função em nome de alguém. Trata-se de algo comum no convívio social. Quando dizemos “em nome de”, estamos apontando para um modo de proceder reflexo; isto é, o meu agir é sustentado, orientado e animado por aquela pessoa que concedeu a possibilidade de agir em seu nome.
Muitas pessoas cultivam o hábito de iniciar o dia, ou coroá-lo, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Não se trata certamente de devocionismo ou expressão de pietismo religioso.
Ao iniciar ou encerrar a jornada “em nome do Pai…” a pessoa está manifestando sua disponibilidade para se deixar conduzir pelo mistério de amor que a Trindade Santíssima (Pai, Filho e Espírito Santo) significa.
A tradição cristã ensina a iniciar toda e qualquer atividade “em nome do Pai…”. De forma particular, os momentos de oração, pessoal ou comunitária, são iniciados “em nome do Pai”.
Para o cristão, traçar sobre si o sinal da cruz e invocar a Trindade Santíssima não tem conotação alguma de dominação, imposição, senhorio, no estilo de senhor-servo, patrão-empregado, superior-inferior. Expressa, sim, reverência e sensibilidade para com o Mistério da Vida.
O “Pai” é generosidade sem medida, gratuidade difusiva de si. O “Filho” é participação e acolhida jovial d’Aquele que é pura generosidade. O “Espírito” é o terceiro “do Pai e do Filho”.
“Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” exprime pertença ao princípio originário de nossa existência e participação humana na vida divina.
Cada vez que iniciamos uma obra ou atividade invocando a Trindade, confessamos nossa disposição de corresponder ao amor intratrinitário.
O autor, Dom Jaime Spengler, é colaborador desta Revista e Arcebispo Metropolitano de Porto Alegre e primeiro vice-presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Texto publicado na edição de julho de 2021.