Da Universidade para o campo
Nesta edição apresento um fragmento de vida da jovem Mara Cristina Baldasso, 25 anos, Mestre em Ciências Ambientais pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Campus de Cascavel (PR), filha de agricultores do interior do município de Corbélia (PR).
Durante seus estudos, Mara Cristina morava numa quitinete alugada (pequena cozinha com um quarto e banheiro) nas proximidades da Universidade. Mas aos finais de semana sua alegria era curtir a família e auxiliar nos trabalhos do campo, como, por exemplo, ordenhar as vacas.
Após sua graduação em Ciências Biológicas pela Unioeste, Mara continuou os estudos ao ser aprovada para o Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Conservação e Manejo de Recursos Naturais. Ela concluiu e apresentou sua pesquisa recentemente, obtendo o título de Mestre em Ciências Ambientais. “Para chegar até aqui não foi fácil e agora pretendo lecionar e lançar voo rumo ao doutorado”.
Ela conta que, ao concluir o Ensino Médio, sentia-se insegura para escolher um curso que iria definir sua vida profissional. Após completar essa fase ficou um ano sem estudar até que tomou coragem para fazer seis meses de cursinho e prestar vestibular para Ciências Biológicas. “Hoje me sinto muito feliz pela escolha que fiz e não me vejo fazendo outra coisa. Sou apaixonada por esta área de conhecimento e quero muito dar aulas para conscientizar sobre a importância de preservar o meio ambiente”.
Sua pesquisa de mestrado consistiu em coletar amostras de peixes em 26 pontos nos riachos das bacias hidrográficas dos rios Ivaí, Iguaçu e Piquiri. Os três deságuam no Rio Paraná. “Fizemos três coletas em diferentes estações do ano para análise e comparação dos dados. Coletamos em riachos urbanos e rurais ‘preservados’.
No rural, percebemos a interferência dos agrotóxicos e na área urbana o resultado tem sido assustador. O lixo urbano é drenado para os rios durante as chuvas. Os produtos de limpeza e de higiene pessoal do banho são os grandes vilões na contaminação dos rios urbanos, atingindo as espécies de peixes e a saúde da população”.
Rio Cascavel
O Rio Cascavel é o principal corpo hídrico de drenagem para o abastecimento público. Tanto a água como as espécies de peixes coletadas estão comprometidas. “As espécies que encontramos estão bem impactadas. Ao abrir os peixes encontramos muitos nematóides, ou seja, vermes parasitas que podem infectar todos os tipos de peixes’’, afirma Mara.
O Lago Municipal de Cascavel, que faz parte do Parque Ecológico Paulo Gorski, nas proximidades da região central da cidade, é a bacia do Rio Cascavel. “A nossa equipe da Universidade foi convidada para fazer análise das espécies e da água antes de acontecer o dia tradicional da Pesca no Lago. Constatamos que o lixo urbano chega ao lago, principalmente aquilo que usamos na higiene pessoal do banho, comprometendo os peixes e a água que é captada, tratada e canalizada para a população”.
Vida no campo
No começo de seus estudos na Universidade, Mara conta que seus colegas, durante os finais de semana, tinham grande disponibilidade para momentos de lazer com a família, amigos, passeios e festas, mas ela preferia estar com a família. “Vejo que isso é diferente para mim, em relação aos meus colegas. Foi muito raro ficar um final de semana em Cascavel. Prefiro ficar com minha família no sítio. Tenho uma grande preocupação em auxiliá-la porque na semana inteira eles trabalhavam para que eu pudesse estudar. Não é justo ficar a semana toda fora e nos finais de semana não ajudar meus familiares. Eles me ajudam tanto e eu não conseguiria ser diferente, isso faz parte de minha criação”.
A vida de Mara Cristina não é diferente da de milhares de estudantes que procuram aproveitar o máximo das oportunidades para aprimorar o conhecimento científico em prol do bem comum. Além disso, é importante frisar que ela não perdeu suas raízes e a valorização da família. Muitas pessoas que tiveram a ocasião de estudar, por vezes, têm perdido esses valores. Pense nisso.