Artigos › 25/09/2023

CARISMA PALOTINO Fidelidade e Responsabilidade

Certa vez, Vicente Pallotti escreveu que cada membro da comunidade deveria se considerar como outro fundador. Muito pode ser interpretado com essa  afirmação.

 

Pode-se pensar em sentido de pertença, em comprometimento, em criatividade; mas penso que também possa ser relevante interpretar como forma de transmissão da responsabilidade de pensar o Carisma, por ele deixado. Em palavras simples, parece que Pallotti, assim como todos os fundadores que o precederam, tinha consciência que sua obra prosperaria na medida em que seus membros sentissem a responsabilidade por PENSAR o significado que ela tem.

A palavra ‘pensar’ tem muita importância. É verdade que existem muitos problemas enfrentados pelo nosso fundador. Dificuldades estas que ainda hoje enfrentamos como: a pobreza, a ignorância, o egoísmo, o descaso com o sagrado etc. Nesses casos, as ações que Pallotti pensou podem ser luzes bem diretas para nossa prática pastoral e teológica. No entanto, também enfrentamos problemas novos, nunca nem imaginados por Pallotti. Neste caso, como poderíamos agir? É certo que não nos pode passar despercebido o crescente número de catástrofes humanitárias: o isolamento social, a ‘zumbificação’ das gerações mais jovens, a desvinculação das antigas instituições, a perda do sentido de família etc. Assim, como podemos agir para trabalhar pela implementação do Reino a partir dessas realidades? Pallotti nunca lidou com jovens que não saiam do celular nem para comer, nunca escreveu nada sobre a crescente onda de violência nas escolas. Esses assuntos não são os assuntos dele, são os nossos assuntos.

Tendo em vista que nosso carisma tem uma ambição universal, ou seja, Pallotti queria que todos pudessem fazer  tudo que estava ao seu alcance a fim de salvar todos os seres humanos. Dessa forma é nossa responsabilidade encontrar em nosso carisma, inspirações para uma prática pastoral e teológica que, de fato, ajude as pessoas do nosso tempo. Mas como encontramos respostas para nosso tempo em nosso Carisma? Eis a pergunta de milhões!

 

Outro modo de pensar o carisma

Pode ser que Pallotti não tenha enfrentado nenhuma crise de violência dentro das salas de aula, mas ele foi professor, fundou escolas noturnas, deu catequese, se ocupou da educação das órfãs na Pia Casa de Caridade. Quando um palotino olha reflexivamente para estas realidades que são próprias do Fundador, certamente encontra mais que somente as atitudes práticas empreendidas por Pallotti em seu contexto.

Olhar reflexivamente, ou simplesmente pensar sobre, significa identificar os princípios que fizeram Pallotti agir desta ou daquela forma; significa encontrar os ‘porquês’ da prática do Fundador. Estes princípios são atemporais, posto que revelam a intenção, a essência, o carisma e, sem dúvida, podemos encontrar nestes elementos arquétipos, valiosas luzes que nos ajudarão a enfrentar os problemas que temos hoje.

Para tal empreitada, é necessário que nos dediquemos ao estudo de nosso Fundador. Conhecer sua história é importante, mas igualmente importante é conhecer seu pensamento, suas intenções, suas inquietações etc. Precisamos conhecer Pallotti em profundidade, tal como um amigo conhece bem o outro, para podermos compreender, assumir e atualizar suas intenções carismáticas através de nosso ser e agir.

 

Pensar e agir em comunidade

Alerta-se, no entanto, que há perigos neste processo, isto é, ninguém é dono do carisma! Não é bom nem prudente dizer sozinho: “Pallotti queria isso… Vicente queria aquilo…” Precisamos pensar em comunidade. É ela quem nos salva das interpretações forçadas do Fundador para justificar a nossa vontade. Conhecer o Fundador significa estudar, mas também significa partilhar o que sabemos, sentimos e vivemos graças ao carisma. Entendo que é nesta partilha que está a atualização do carisma.

Não se trata de uma sistematização teórica e fria sobre um homem do passado, mas antes, é um manifesto vivo das experiências e reflexões que cada membro possui graças às categorias oriundas da fusão entre sua experiência e aquela que recebeu da comunidade.

Precisamos pensar sobre nosso Carisma! Mas mais que qualquer estudo individualizado, devemos nos sentar comunitariamente e rezar juntos o carisma que recebemos como herança, para a partir disso, tentar responder aos problemas de nosso tempo. Para sermos ‘outros fundadores’, como desejava nosso pai fundador, devemos pensar sobre nosso carisma. Só assim seremos fiéis à essência do carisma, mas igualmente responsáveis pela sua atualização e adaptação.

Matheus Aurélio Bernardi

O autor, colaborador desta Revista, é consagrado palotino
e está no terceiro ano do Curso de Teologia
na Fapas em Santa Maria (RS)
E-mail: matheusbernardi62@gmail.com

 

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