As diversidades linguísticas em Moçambique
As diversidades linguísticas em Moçambique
Todo ser humano tem o desejo de se expressar, comunicar seus pensamentos e sentimentos. A linguagem, seja ela falada, escrita ou gesticulada, faz parte do convívio humano.
No entanto, temos que perceber que a linguagem, enquanto expressão do ser humano, é algo natural; já as diversas línguas faladas são convenções que surgem de condições históricas, geográficas, econômicas e políticas, ou seja, são fatos culturais.
A primeira forma de linguagem que o ser humano produz é o choro. Quando nascemos a primeira expressão nossa é esta. Ela comunica algo de grandioso. Poderia perguntar para a mãe que ouve o choro de seu filho pela primeira vez qual seria a verdadeira comunicação deste acontecimento? Junto ao choro também podemos dizer que o grito, o riso, as expressões faciais nascem das emoções. E são das emoções que nasce a linguagem. Por isso a linguagem figurada como a poesia, o canto nos sensibiliza. Quem de nós não se emocionou com uma música que, muitas vezes, nem entendemos a letra por ser em uma língua desconhecida? Até mesmo cantamos, tentando arranhar algumas palavras.
Esta realidade de estar em um lugar e não compreender a língua é algo muito interessante. Já tive esta experiência diversas vezes. Recordo uma vez que estive na Itália num encontro de jovens. Havia alguns jovens da Coréia do Sul que ao tentar conversar comigo e, não tendo sucesso, começaram a falar cada vez mais alto. Tive que pedir para um tradutor dizer que não havia necessidade disso, haja visto que não sou surdo, mas somente não entendia. Mas isto se dá pelo fato sempre novo do ser humano tentar se comunicar. E como é frustrante não conseguir, a ponto de gritar.
Minha experiência em Moçambique
Em Moçambique também passamos por estas dificuldades. Às vezes aquelas senhoras lá do interior tentam conversar conosco sem êxito. Todavia, como se alegram quando conseguimos falar, nem se for pequenas palavras, como um “bom dia”, um “como está?”, um “obrigado”. Mas o que alguns não sabem é que esta dificuldade de comunicação às vezes é enfrentada pela própria comunidade moçambicana. Vou explicar…
Por ter sido por muito tempo colônia portuguesa, a língua oficial é o próprio português. No entanto, um censo realizado em 2007 dizia que somente 50% dos moçambicanos falam o português. E se formos mais a fundo veremos que apenas 36% da população rural sabe falar o português.
Mas o que chama a atenção é a diversidade de línguas faladas em Moçambique. Fala-se em torno de 41 línguas diferentes. Todas estas oriundas da língua bantu.
No entanto, são classificadas em seis grupos linguísticos diferentes. Ou seja, se observarmos atentamente, veremos que há uma diversidade enorme de línguas dentro do próprio país. E de acordo com estes grupos linguísticos há uma diferença enorme na fala. Por exemplo, se falarmos “Obrigado Senhor” em Chope diremos “Ni bongile Mkoma”, já em Macua será “Kihosukuro Apwiya”.
E esta diversidade linguística está enraizada justamente na questão da formação do povo moçambicano. A língua segue a etnia, a população de cada região. Faz parte do ser enquanto ser de cada lugar. Ela identifica quem você é, a que povo pertence. Expressa a forma de ser. No entanto, seja uma ou outra língua, a linguagem em si mesma sempre está a nos envolver, pronta para expressar nossos pensamentos e sentimentos, acompanhando-nos em toda a nossa vida.
O autor, Leandro Carlos Benetti, é colaborador desta Revista, irmão palotino e trabalha na Paróquia São Maximiliano Maria Kolbe de Inharrime, Moçambique.
Texto publicado na edição de novembro de 2022.